JANELAS

“Certo jovem, chamado Êutico, estava sentado numa janela. Prolongando Paulo ainda mais o sermão, o jovem adormeceu profundamente e, vencido pelo sono, caiu do terceiro andar. Quando o ergueram, estava morto” (Atos 20:9)

Pr. Hamilton Rocha*

    O apóstolo Paulo estava realizando a sua terceira viagem missionária. Chegou a Trôade, onde, durante a sua segunda viagem,  recebeu o chamado de Deus para entrar na Europa: “Passa à Macedônia e ajuda-nos”.

    Ele estava de passagem por Trôade e ali ficou com seus sete companheiros, sete dias (v.6). Os irmãos estavam reunidos para ouvir o apóstolo, celebrar a Ceia do Senhor, no primeiro dia da semana, como era costume da Igreja Primitiva. Paulo viajaria no dia seguinte, mas decidiu falar à igreja e prolongou o seu sermão.

    O lugar era um ambiente superior com capacidade para trezentas a quatrocentas pessoas. Naquele culto estava o jovem Êutico, que resolveu sentar-se numa janela. Lá ele adormeceu profundamente, caiu do terceiro andar e morreu.

    Quais as lições que podemos extrair desse texto?

    Das janelas podemos ver muita coisa.

    Abimeleque, rei dos filisteus, olhou pela janela e viu que Isaque estava se divertindo, com Rebeca, sua mulher (Gênesis 26:8). Da janela Mical, filha do rei Saul, viu Davi, seu marido entrando na cidade dançando diante da Arca do Senhor (II Samuel 6:16). Da janela Jezabel viu Jeú chegar, e tendo pintado os olhos e feito um penteado de lá foi jogada, perdendo a vida.

    Chico Buarque disse que  “a moça feia debruçou na janela pensando que a banda tocava pra ela…” (in. “A Banda”). E que “toda gente homenageia Januária na janela. Até o mar faz maré cheia pra chegar mais perto dela”. Machado de Assis disse que “os olhos são a janela da alma”.

    Janelas distraem. O que está nos distraindo?

    Êutico era um jovem crente. Estava no culto, gostava de estar nas reuniões da igreja, mas talvez ele quisesse experimentar o melhor da igreja e o melhor do mundo. As janelas do mundo são muito atraentes. Ficamos focados mais no mundo do que na tarefa de ser igreja.

    Janelas produzem sonolência. Perdemos o foco, não estamos mais conectados, estamos na igreja, mas o nosso coração está lá fora. Na Parábola das Dez Virgens todas dormiram (Mateus 25:1-13). “Eu tenho a lâmpada; na emergência posso comprar azeite à hora que eu quiser”.

    Êutico não estava na boate ou em lugares inadequados. Ele estava no culto. Nos dias de hoje ele estaria no culto com o celular ligado, tendo na tela a Bíblia on line com o texto do sermão pastoral. Mas de repente entra uma mensagem no WhatsApp ou no e-mail e ele se desconecta da mensagem.

    Janelas podem provocar quedas. Êutico caiu literalmente do terceiro andar e morreu. Há outras quedas que nos matam espiritualmente. Davi olhou pela janela e viu Bate-Seba tomando banho. Sansão olhou para uma filistéia e caiu. Perdeu a visão e a vida.

    Finalmente, o que devemos fazer como igreja quando alguém cair da janela?

    Descer até eles, abraçá-los, trazê-los de volta à realidade e à vida e alegrar-se como igreja. Como aconteceu naquele culto. Esse é o nosso papel.