Fechar
Buscar no Site

Manejo da agrobiodiversidade: extensionistas da Emater-DF participam de curso na Embrapa Cerrados

 -

Técnicos da Emater/DF estiveram na Embrapa Cerrados na sexta-feira (8) onde participaram de uma atualização sobre manejo da agrobiodiversidade com ênfase na produção de sementes agroecológicas. Ficou a cargo do pesquisador Altair Toledo repassar as informações técnicas aos 25 extensionistas rurais, entre agrônomos e zootecnistas, que estão participando do curso promovido pela Emater-DF Princípios e Práticas de Agroecologia e Produção Orgânica, com carga horária de 48 horas.

Na abertura, o supervisor do Setor de Implementação e Programação da Transferência de Tecnologia (SIPT), Sérgio Abud, falou sobre a relevância desse intercâmbio entre as duas instituições. “Esse conhecimento aplicado é muito importante. Não adianta apenas desenvolvermos a tecnologia se ela não chegar ao produtor. Se ela não for utilizada, a gente não fecha o ciclo”. Segundo ele, a cada dia cresce o interesse de médios e grandes produtores em utilizar os princípios da agroecologia. “Hoje integrar é uma forma de darmos sustentabilidade. Aquele modelo que trabalhávamos com as grandes culturas, safra a safra, não é mais possível”, avalia.

De acordo com Isabela Sousa, coordenadora de Agroecologia e Produção Orgânica da Emater-DF, a intenção com esse módulo do curso foi capacitar os técnicos para que cada um, em suas áreas de atuação, identifique produtores que queiram fazer o trabalho de melhoramento genético participativo do milho. “Aqui em Brasília não temos nenhum polo de irradiação do melhoramento participativo do milho. Ele é muito importante para a produção agroecológica, pois sem esse material os produtores acabam tendo que utilizar sementes convencionais, não adaptadas para a realidade deles”.

Recorte da biodiversidade – o pesquisador Altair Toledo repassou no curso conceitos relacionados à agrobiodiversidade. Segundo ele, ela pode ser entendida como um processo de relações e interações do manejo da diversidade dentre espécies e entre elas, com conhecimentos tradicionais e com o manejo de múltiplos agroecossistemas, sendo um recorte da biodiversidade. “Essas formas milenares de manejo serviram de base para as diferentes formas de agricultura ecológica existentes hoje”, explicou.

O pesquisador repassou informações sobre o processo de diversificação e domesticação das espécies ao longo dos anos. Segundo ele, a grande diversidade genética das espécies foi a plataforma para se iniciar os trabalhos de melhoramento genético no mundo e a perda genética de muitos desses materiais é uma inquietação global. “As grandes empresas também se preocupam com essa perda, pois não se tem híbrido moderno sem variabilidade local. Qualquer novo material tem sua origem nas variabilidades locais. São elas as fontes genéticas de tolerância para todo tipo de estresse”, ressaltou.

Altair apresentou as estratégias que são utilizadas pela pesquisa em trabalhos relacionados ao manejo da agrobiodiversidade e a sistemas de produção agroecológica com recorte no melhoramento genético participativo. Segundo ele, esse tipo de melhoramento busca além de ganhos de produtividade, a conservação e promoção da variabilidade genética, obtenção e uso de germoplasma de adaptação local, seleção dentro de populações, avaliação experimental, diversificação do sistema produtivo e produção de sementes. Os três componentes básicos do melhoramento participativo, segundo ele, são: criação de novas variedades locais, conservação in situ ou on farm e empoderamento dos agricultores. “Com o melhoramento genético participativo, os agricultores interagem com a diversidade genética, com os aspectos sociais, culturais e locais e com os múltiplos agroecossistemas. Por conta disso, eles acabam tendo uma visão holística e sistêmica do melhoramento”, afirma.

De acordo com o pesquisador, o melhoramento participativo é uma das estratégias para aumentar o potencial produtivo das variedades crioulas. “Em áreas com problemas de estresses ambientais ou em sistemas agroecológicos, torna-se fundamental o desenvolvimento de variedades adaptadas aos ambientes locais. Essas variedades, quando associadas a um agroecossistema funcional, têm uma lógica própria, impossível de ser reproduzida em um centro de pesquisa”, explica o especialista. São exemplos de variedades originárias de melhoramento participativo as seguintes variedades de milho: Eldorado, Fortaleza e Sol da Manhã, a primeira lançada a partir do melhoramento participativo, em 1996.

O pesquisador da Embrapa explicou que, por meio do melhoramento participativo, também é possível desenvolver novas variedades. É o caso da Taquaral, Ribeirão e Caxambu, que foram formadas a partir do cruzamento de variedades crioulas com outras melhoradas. “Nesse processo de formação, algumas características indesejáveis como porte alto das plantas, acamamento e quebramento são eliminadas em função do cruzamento com materiais sem essas características indesejáveis”, explica. Segundo Altair Toleto essas variedades possuem alto potencial produtivo, chegando a 10 toneladas por hectares tanto em sistemas convencionais como em sistema agroecológicos.

Sementes agroecológicas – a parte teórica do curso foi finalizada com a questão da produção de sementes agroecológicas. Segundo Altair, esse é hoje o grande gargalo para a utilização do cultivo orgânico já que o mercado ainda não dispõe de sementes orgânicas em quantidade e qualidade suficientes para ateder toda a demanda das principais espécies e cultivares.  “A produção de sementes orgânicas exige o desenvolvimento de tecnologias adaptadas às condições de nosso país, sendo uma delas o estabelecimento de um germoplasma mais apropriado, com boas características comerciais e com resistência a pragas e doenças”.

De acordo com o especialista, a produção de sementes orgânicas exige ainda cuidados especiais que começam com a certificação. “Essa fase engloba desde o plantio até a embalagem. Assim, não só os campos de produção, mas as unidades de beneficiamento de sementes também deverão ser certificadas, atendendo às exigências da entidade certificadora”. Segundo ele, empresas que produzem tanto sementes convencionais como orgânicas deverão ter linhas separadas para essas duas atividades durante todo o processo de produção – secagem, beneficiamento, manuseio e armazenamento.

O pesquisador explicou que essa certificação busca assegurar ao produtor de sementes orgânicas o plantio de sementes isentas de tratamento químico, produzidas em condições próprias e seguras, desde o campo até a embalagem final. Embalagem esta que deve ser diferenciada, devendo ser priorizadas aquelas produzidas com materiais comprovadamente biodegradáveis ou recicláveis, com identificação e selo de certificação.

O curso foi finalizado na parte da tarde com uma visita à unidade demonstrativa de milho e corredores agroecológicos do Instituto Federal de Brasília (campus de Planaltina)

Juliana Caldas (MTb 4861/DF)
Embrapa Cerrados

O conteúdo deste blog é livre e seus editores não têm ressalvas na reprodução do conteúdo em outros canais, desde que dados os devidos créditos.

mais / Postagens