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Texto do Pr Hamilton Rocha (IBCalhau) publicado na PG do dia 03/11/2019

“AQUI JAZ, SE VERA EST FAMA”

Pr. Hamilton Rocha*

    D. Sebastião, rei de Portugal, arremeteu desvairado contra as tropas muçulmanas, decidido a acabar com elas, e morreu na batalha de Alcácer-Quebir, no Marroros, em agosto de 1578. Seu cadáver nunca foi encontrado. Tinha ele vinte e quatro anos. Alguns dos seus súditos espalharam a lenda de que ele se salvara milagrosamente e se recolhera em uma ilha misteriosa de onde voltaria, um dia, para novamente reinar em Portugal. Essa lenda durou 3 séculos. Muitas pessoas acreditaram nessa lenda a tal ponto que D. João IV, ao ser aclamado em 1640, teve que jurar que entregaria a coroa a D. Sebastião quando ele voltasse para reclamá-la.

    Não faltam mitos parecidos com esse habitando o coração humano. Gente acreditando em fantasmas, sombras.

    O apóstolo Paulo nos diz em sua Epístola aos Romanos: “Nós, que estamos mortos para o pecado, como viveremos ainda nele?” (Romanos 6:2). Aí está: estando mortos, mas ainda vivendo. Quem está morto? O pecado.

    O pecado deve morrer em nós. O pecado que era e que foi, mas que não deve ser mais. Pecados que abandonamos e que, portanto, devem ser defuntos. Vícios que conseguimos vencer. Situações equívocas que pudemos ultrapassar. Hábitos de que nos libertamos e não nos orgulhamos. Pretendíamos ter uma vida limpa. Começar tudo de novo. Mas eis senão quando voltamos sobre nossos passos, reanimando aqueles cadáveres. Tornamos ao vício, aos descaminhos. Talvez agora seja pior do que antes.

    Fizemos como a porca que depois de lavada vai outra vez espojar-se na lama (II Pedro 2:22). Tudo porque aqueles mortos não estavam bem mortos. E não estavam bem mortos porque não acabamos de matá-los. É sempre assim: quando somos nós que matamos aquilo que não presta em nossa vida, o serviço não fica bem feito.

    É como o lodo no fundo do mar, mas que poderá vir à superfície a qualquer momento. Não tenhamos dúvida: o nosso velho homem só morrerá se o crucificarmos na cruz de Cristo, como Cristo. É o que nos ensina o apóstolo Paulo: “Já estou crucificado com Cristo; e vivo não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim” (Gálatas 2:20).

    Então, aí sim, podemos proceder aos funerais. Com epitáfio e tudo, mas um epitáfio que não mente e não como o de D. Sebastião, que era uma dúvida.

    Um dos seus pajens, caindo prisioneiro, disse que lhe apresentaram o cadáver de seu amo e senhor. O suposto corpo de Sua Majestade foi sepultado no cemitério de Belém, em Portugal, com o seguinte epitáfio: “Aqui jaz, se vera est fama…” (Aqui jaz, se verdadeira a notícia…).

    Muitos cristãos poderiam escrever a mesma inscrição tumular em sua velha natureza. Que morreu, mas não morreu. O ideal, porém, seria simplesmente escrever: “Aqui jaz”.

Pastor da Igreja Batista do Calhau em São Luís do Maranhão

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