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FALANDO DE SAUDE – MEU FILHO NÃO FALA. DEVO ME PREOCUPAR?

 


DRA. MELYSSA BENTIVI ANDRADE

 

MEU FILHO NÃO FALA. DEVO ME PREOCUPAR?

 

A queixa “meu filho não fala!” é muito comum no consultório pediátrico, assim como a comparação com outras crianças da mesma idade: “a prima dele fala mais”, “o irmão dele na mesma idade falava bastante” ou “na sala dele da escola ele é o único que não fala”.Questionamentos e queixas que revelam, muitas vezes,a angústia dos pais quanto ao desenvolvimento do filho. Entre dúvidas e incertezas,há a pergunta, na maioria das vezes, não dita: “meu filho é autista”?

Não são respostas simples, tampoucopodem ser generalizadas, pois nem todo atraso de fala é, necessariamente, um transtorno do espectro autista. No entanto, qualquer queixa relacionada ao desenvolvimento da criança deve ser levada em consideração, tendo em vista que, por mais que existam variações individuais, há uma média adequada para o desenvolvimento infantil e o atraso na identificação do problema e na realização de terapias piora muito a recuperação da criança.

Mas, afinal, o que é normal no desenvolvimento da linguagem da criança? E o que deve realmente nos preocupar? Em princípio, devemos nos ater ao acompanhamento sistêmico da criança, tendo em vista que o desenvolvimento neuropsicomotor é bastante complexo, resultado de inúmeras interações entre a carga genética de cada indivíduo e suas influências familiares e ambientais. Está comprovado, contudo que, apesar das variações individuais, existem parâmetros básicos esperados de linguagem e outros marcos do desenvolvimento para cada idade que devem ser acompanhados pelo pediatra.

Essa é uma das maiores importâncias do acompanhamento pediátrico mensal no primeiro ano de vida e regular no segundo ano de vida, para que seja feita a avaliação do desenvolvimento da criança e eventuais atrasos sejam detectados e tratados o mais precocemente possível.

É importante destacar que a linguagem da criança se desenvolve desde o nascimento, a partir da interação com sua mãe e outros cuidadores, os quais começam a interpretar os choros, olhares e expressões. À medida que a criança entende que o seu choro desencadeia uma resposta dos adultos, isso inicia o estabelecimento de uma comunicação. E ela, desde muito pequena, tem uma clara preferência pela face humana e a habilidade de tentar reproduzir as expressões das pessoas que a rodeiam.

Assim, desde 3 ou 4 meses, a criança já emite diversos sons, risos, gargalhadas e  gritos, que já são linguagem. O maior estímulo para o desenvolvimento da linguagem nessa fase da vida é conversar com o bebê, olhar nos olhos, dar colo, cantar e brincar. Observamos que, por volta dos seis meses, já é possível entender alguma pequena sílaba (“ma”, “ba”, “da”) e, por volta de 9-10 meses, a criança começa a balbuciar duas a três silabas que, para alegria da família, pode ser interpretado com mamãe, papai, vovó, etc.

Como podemos observar, a linguagem vai se desenvolvendo em paralelo à interação social e ao interesse pelas brincadeiras, que vão ficando mais complexas, ao entendimento de si mesmo e do outro, até que esse bebê se torne  um indivíduo falante.Considerando os parâmetros, com 1 (um) ano, a criança começa a falar pequenas palavras e já entende o próprio nome. Por volta de 1 (um) ano e meio,  o bebê já fala pequenas frases e essa fala vai ficando cada vez mais complexa e com mais palavras.

Seguindo esta média adequada ao desenvolvimento, detectamos risco de autismo quando, além do atraso da fala esperada para idade, existem comprometimentos na interação social e a presença de interesses restritos/ comportamentos repetitivos ou diferentes do esperado para idade ou para a situação.

Por tudo isso, a avaliação do desenvolvimento neuropsicomotor é parte obrigatória da consulta da criança. Além do mais, existem questionários padronizados para detecção de crianças em risco para transtorno do espectro autista, que devem ser feitos na consulta, mas também estão disponíveis para os pais na internet (MCHAT). Esses testes não servem para dar diagnóstico de autismo, mas para verificar se há algum risco e encaminhar a criança para uma avaliação com especialista.

Caso seja realmente detectado algum atraso, o pediatra pode solicitar avaliação auditiva ou outros exames, conforme necessidade. Alerto que a mais eficaz das intervenções é sempre a estimulação precoce. Uma vez detectado o atraso, deve-se iniciar fonoaudiologia, terapia ocupacional e demais atendimentos conforme a necessidade da criança. A neuroplasticidade cerebral, ou seja, a capacidade de adaptação cerebral faz com que a recuperação seja muito melhor quanto mais precoce e adequado seja o estímulo.

Portanto, o mais importante é manter o acompanhamento pediátrico regular e conversar com seu pediatra sobre dúvidas a respeito do desenvolvimento do seu filho, evitando angústias e intervindo precocemente quando necessário.

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