Texto do Pr. Hamilton Rocha publicado na PG do dia 11/08/2019
A PATERNIDADE DE DEUS
Lucas 15:11-32
Pr. Hamilton Rocha*
Essa parábola contada pelo Senhor Jesus e narrada pelo Dr. Lucas retrata uma típica família judaica do primeiro século. Um pai que tinha dois filhos, mas o pai é a figura central. Filhos que são muito parecidos conosco.
O filho mais novo era esbanjador, dissipador, desejoso por aventuras. Cobiçou os bens do pai sem que este houvesse morrido. O escritor aos Hebreus afirmou que “onde há testamento é necessário que se dê a morte de quem o fez. Porque um testamento não tem força senão pela morte, visto que nunca terá valor enquanto viver quem o fez” (Hebreus 9:16,17).
Portanto, o filho mais novo tinha apenas uma expectativa de direito. Disse ele: “Pai, dá-me a parte dos bens que me cabe…” (v.12). Por lei, o filho mais velho ficaria com 2/3.
Aquele moço quis sair da tutela do pai e governar sua própria vida. Viveu dissolutamente; enlameou sua vida; foi parar num chiqueiro. Atirou aos porcos as pérolas da sua dignidade de filho.
O pecado tira tudo. Veja a sequência: “…juntou tudo” (v.13); “…gastou tudo”(v.14); “…ninguém lhe dava nada” (v.16). Lá no chiqueiro tomou consciência; percebeu que estava errado; arrependeu-se.
O filho mais velho, por outro lado, era irascível, temperamental. “Mas ele se indignou e não quis entrar…(v.28). Quem sabe esse temperamento não ajudou seu irmão a sair de casa. Ninguém suporta viver com uma pessoa assim. Imaturo emocionalmente; impulsivo; precipitado nos julgamentos. Acusou o pai de favoritismo: “Há tantos anos te sirvo, e nunca desobedeci uma ordem tua; mesmo assim nunca me deste um cabrito para eu me alegrar com meus amigos…” (v.29).
Tinha um falso senso de autoridade moral (acusou seu irmão de envolver-se com prostitutas). “Chegando, porém este teu filho, que desperdiçou os teus bens com prostitutas, mataste para ele o melhor bezerro” (v.30). Sua linguagem era equivocada: “…te sirvo…” (v.29).
Era servo, ao invés de filho. Achava-se moralmente certo. Não se comoveu em buscar seu irmão caçula para alegrar o coração do pai. Não se identificou com a alegria do pai; colocou-se à parte, fora da intimidade do pai. “Este teu filho…teus bens…”(v.30).
No texto vamos encontrar a figura do pai. Este não constrangeu o filho a ficar. Se o filho quer partir, o pai não o impede, mesmo podendo prever todo o sofrimento que aquele passaria. O amor é um ato de liberdade. Só um ser livre pode amar. Os caminhos de Deus trazem felicidade. Repartiu os seus bens com os filhos.
O pródigo pediu a parte que lhe cabia na herança, mas o pai “repartiu os seus bens” (v.12). Os bens que o filho mais moço desperdiçou vivendo dissolutamente não eram seus, mas do seu pai.
O pai recebeu seu filho de volta. Deus nos recebe de volta ainda que muitas vezes machucados pelo pecado.
Aristóteles dizia que “um homem de bem não corre em público”. Mas o pai correu. Esqueceu de todas as regras sociais. Abraçou o filho sujo.
Deus, nosso Pai, sofre de dois males: insônia e amnésia. Ele não dorme. Seu olhar está firme na lonjura dos caminhos esperando seus filhos voltarem ao lar. Deus não tem memória. Ele esquece tudo. Ele não pode ver um coração quebrado que se derrete todo.
Um dos conceitos mais lindos e sublimes sobre Deus é que Ele é pai. “Pai nosso que estás no céu…”(Mateus 6:9).
Ele pai de nosso Senhor Jesus Cristo. “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos regenerou para uma viva esperança, segundo a sua grande misericórdia, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos.”(I Pedro 1:3.)
Jesus seu único Filho. “Filho unigênito” – (Gr. “monogenê”) – “único gerado”. Gerado e não criado. Jesus, filho de Maria é “primogênito” – (Gr. – “protótokon”). Portanto, Deus tem um único Filho gerado, e muitos filhos criados ou adotados.
No sentido lato ou genérico, todos somos filhos de Deus. No sentido estrito ou específico só se pode considerar realmente filhos de Deus aqueles que tenham sido salvos pelo sangue de Jesus. Filhos por adoção (Gálatas 4:4,5).
Portanto, filhos por criação – todos os homens. Filhos por adoção – nem todos (João 1:12,13). Ora, se de uma maneira ou de outra o homem é filho de Deus, este, como Pai pode pedir-lhe o coração. “Meu filho, dá-me teu coração” (Provérbios 23:26).
Dá-me: Deus não exige; pede. Não manda; pede. Deus não se impõe pela força, mas pela persuasão. Pelo amor: “dá-me”. Não é uma transação. Não é uma proposta de compra.
É uma dádiva que Ele quer do homem – um presente. Coisa de pai para filho e de filho para pai. E que presente ele quer? O coração.
Isso não é amor? Deus nos ama, eis a grande revelação da Bíblia. Ele nos ama e quer que o amemos. Ele, Pai; nós filhos. Ele é mais do que Criador, do qual somos criaturas. Mais do que Rei, do qual somos súditos. Mais do que Senhor, do qual somos servos. Mais do que Mestre, do qual somos discípulos. Ele é Pai. Não é sublime esse conceito de Deus?
• Pastor da Igreja do Calhau em São Luís – MA
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