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Texto do Pr Hamilton Rocha da PG do dia 30/06/2019

 

O JUGO DE JESUS

“Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve” (Mateus 11:28-30).

Pr. Hamilton Rocha *

    Os meninos de Israel começavam a estudar a “Torah(Pentateuco) aos 6 anos. Aos 10 anos, ao final do primeiro ciclo de estudos (BeitSefer), esses meninos já tinham decorado a “Torah”. A partir daí alguns meninos voltavam para casa e aprendiam o ofício da família. Jesus, por exemplo, aprendeu o ofício de carpinteiro. Outros se dedicavam a um segundo estágio (BeitTalmud). Esses meninos extraordinários continuavam seus estudos na escola judaica sob a orientação de um rabino, que os adotava,  para lhes ensinar mais profundamente a “Torah” e suas escolas de interpretação. Eles eram a elite intelectual de Israel. Aos 12 anos já haviam decorado as Escrituras (Velho Testamento). Nessa idade Jesus debateu as Escrituras como os doutores da lei no templo em Jerusalém (Cf. Lucas 2:46,47). Aos 14 anos eles debatiam a tradição oral (interpretação dos rabinos a respeito da lei).Dedicavam a vida à discussão de como colocar em prática a lei de Moisés.

    A maior preocupação dos rabinos era interpretar e colocar em prática a Lei de Moisés, isto é, como viver de acordo com a Torá. Eles buscavam a melhor interpretação do que era permitido e proibido na lei mosaica. A Lei ordenava guardar o sábado (Êxodo 20:8-11), logo o sábado era dia de descanso. O problema era saber o que consistia trabalho e o que não era. Por exemplo: quantos quilômetros um judeu pode caminhar no sábado sem quebrar o mandamento? Um rabino diria: “Cinco quilômetros”, e outro: “Cinco quilômetros desde que não leve nenhuma carga”. Essas discussões eram minuciosas e intermináveis.

    Cada rabino possuía sua lista de permissões e proibições para uma vida de obediência à “Torah. Tais listas eram chamadas de “jugo do rabino”. Cada rabino possuía seu jugo, e seus discípulos eram obrigados a obedecer. Nos dias de Jesus dois grandes rabinos – Hillel e Shammai – debatiam entre si. Então, quando perguntaram a Jesus sobre o divórcio (Mateus 19:3), na verdade o que eles queriam era saber se Jesus concordava com Hillel ou Shammai, destacados rabinos da época de Jesus. Eles não estavam querendo saber se Jesus era contra ou a favor do divórcio, porque o divórcio estava previsto na Lei de Moisés. Eles queriam saber de Jesus em quais circunstâncias o divórcio era permitido. Em outras palavras, qual era o jugo de Jesus. Assim, cada rabino tinha sua forma de interpretar a “Torah”. O jugo do rabino era, portanto, seu conjunto de regras e interpretações.

    Vez por outra aparecia um rabino afirmando ter uma nova interpretação da Lei. Os rabinos mais antigos se reuniam para saber se aquela interpretação cumpria ou abolia a Lei. Para que um rabino tivesse sua autoridade reconhecida, deixando de ser discípulo sob o jugo de outro rabino e receber o direito de ter seu próprio jugo, era necessária a aprovação de pelo menos dois rabinos mais antigos. Se fosse aprovado o novo rabino recebia “as chaves do reino”, permissão para “abrir e fechar”, “ligar e desligar”, “permitir e proibir”, isto é, colocar seu jugo sobre seus discípulos.

    É nesse contexto que precisamos entender as palavras de nosso Senhor: “Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve” (Mateus 11:28-30).

    O que nosso Senhor estava dizendo é que ele tinha a sua própria interpretação da “Torah: “Ouvistes o que foi dito aos antigos…eu porém vos digo” (Mateus 5:21,22).

    A partir daí surge um novo grupo de discípulos judeus na Palestina: pessoas que não estavam mais sob o jugo da Lei de Moisés, mas sim sob o jugo de Jesus.

    É nesse contexto que Jesus diz: “Eu também tenho um jugo, uma forma de interpretar a “Torah”. Eu também tenho uma forma de dizer qual a vontade de Deus para suas vidas”. Mas seu jugo é diferente do jugo dos rabinos.

    Porém, o jugo de Jesus, ao contrário do jugo dos rabinos era:

I  –  SUAVE

    Na língua grega tem o sentido de “agradável”, “aprazível”. Ele satisfaz as mais altas aspirações do homem. Quando fazemos aquilo que nos agrada, não só aceitamos sacrifícios, mas os achamos desejáveis. Quando o homem é regenerado, a lei de Cristo representa para ele o que a água representa para o sedento e o alimento para o faminto.

     O contrário também é verdadeiro. Para o homem não regenerado a lei de Cristo constitui-se num gravame, um ônus, difícil de suportar.

    Fiquemos com as lições do apóstolo Paulo na sua primeira epístola aos Coríntios: “O homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, pois lhe são absurdas; e não pode entendê-las, porque se compreendem espiritualmente. Mas aquele que é espiritual compreende todas as coisas, ao passo que ele mesmo não é compreendido por ninguém. Pois, quem jamais conheceu a mente do Senhor, para que possa instruí-lo? Mas nós temos a mente de Cristo” (I Coríntios 2:14-16).

II – LEVE

    Pesa pouco em razão da natureza do seu conteúdo.Cristo acena ao homem com um ideário que encerra o que mais puro e nobre existe para a alma. Ideais assim não cansam. O que cansa são aspirações rasteiras, vulgares, medíocres que atraem o homem para baixo, ele que foi feito para as alturas.

    Há uma lenda sobre a criação das aves. Quando as asas foram colocadas nelas, reclamaram seu peso; mas quando perceberam que podiam voar ficaram felizes.

    O jugo de Jesus torna o homem alígeiro. Alguém que ame a Cristo não julgará pesado o seu jugo.

    Uma menina foi vista carregando outra criança quase do seu tamanho. Alguém disse: “Ele é muito pesado para você”.  “Não pesa não, é meu irmão”, retrucou a garota.

    Os apóstolos exultaram após serem açoitados por causa de Jesus (Atos 5:41).

    Não há paradoxo no convite de Jesus. Jugo e descanso no ensino de Jesus não são ideias antinômicas. Cristo impõe um ônus sim, mas suave e leve.

    Nosso relacionamento com Deus não está baseado na obediência moral, nem no cumprimento rigoroso de seus mandamentos.

    Jesus nos oferece um relacionamento baseado na graça de Deus. Vivemos no Espírito de Cristo e não na moral do Cristo. Jesus é o perfeito obediente. Vivemos revestidos da justiça de Cristo, justiça que é da fé. Vivemos pela fé descansando no poder de Deus.

    Os discípulos de Jesus não fazem pouco caso dos mandamentos de Deus, mas estão comprometidos com a justiça, pois estão sob o jugo de Jesus. Não carregamos o peso da obrigatoriedade e da penalidade da Lei, porque Jesus tomou sobre si esse peso. Os discípulos de Jesus não vivem com medo de Deus.

    Os discípulos de Jesus ouvem-no dizer: “Livre-se desse peso”, “jogue fora esse peso excessivo, opressivo, castrador, destruidor e maldito da religião moral. Descanse na graça e no amor de Deus. Tome sobre você o meu jugo suave e o meu fardo leve”.

    Jesus nos faz um convite para sermos seus discípulos.Para irmos a Ele. Nele encontraremos descanso. Este convite é para todos e não apenas aos extraordinários, independentemente da idade, sexo, classe social, pigmento da pele, passado, etc. Jesus nos chama para sermos seus discípulos, a andar com ele.

    Qual será nossa resposta?

Pastor da Igreja Batista do Calhau em São Luís – MA

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