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Não tem como ser profundo com Deus e superficial com a Bíblia”, diz Luciano Subirá

 

Pastor Luciano Subirá em conferência na Igreja Apostólica Restaurando Nações, no Japão. (Foto: IARN Japan)

Pastor Luciano Subirá em conferência na Igreja Apostólica Restaurando Nações, no Japão. (Foto: IARN Japan)

O pastor Luciano Subirá tem como missão promover o envolvimento das pessoas com a Palavra de Deus. Em entrevista ao Guiame nesta sexta-feira (3) durante a conferência Kingdom Movement, no Japão, ele falou sobre a importância da prática bíblica na caminhada cristã.

“Não tem como ter uma relação profunda com Deus e um relacionamento superficial com a Bíblia. Eu acredito que além do entendimento doutrinário, que obviamente estabelece qual é o trilho da nossa fé, o entendimento prático do que é a vida cristã depende do nosso envolvimento com a Palavra”, disse Subirá ao Guiame na Igreja Apostólica Restaurando Nações Japan, em Kamisato, na província japonesa de Saitama.

“Precisamos não só de avivamento, na minha opinião.Precisamos de reforma, de uma volta à Palavra”, frisou o pastor.

Embora o número de evangélicos venha aumentando de maneira significativa no Brasil, Luciano acredita que os cristãos precisam se tornar verdadeiros discípulos de Cristo. “Antigamente o número de crentes era menor, mas o testemunho era melhor. Hoje nós temos um volume maior de crentes e o impacto do nosso testemunho é cada vez menor”, observa.

Grande parte disso está ligado ao ensino dos púlpitos que, segundo o pastor, está focado em resolver os problemas imediatos das pessoas. “Quando começamos a limitar demais a ação de Deus para apenas uma situação do momento e não pensamos no cristianismo como um projeto de vida, deixamos de preparar os irmãos para entenderem a forma como eles viverão lá na frente”, explica.

Confira a entrevista na íntegra:

Portal Guiame: Você tem usado a internet como plataforma de ensino, principalmente o YouTube. Você acredita que a igreja brasileira precisa se aprofundar no conhecimento e prática da Bíblia?

Luciano Subirá: Eu acredito e muito. Não tem como ter uma relação profunda com Deus e um relacionamento superficial com a Bíblia. Eu acredito que além do entendimento doutrinário, que obviamente estabelece qual é o trilho da nossa fé, o entendimento prático do que é a vida cristã depende do nosso envolvimento com a Palavra. A Bíblia é um espelho que revela quem somos. Tanto o nosso estado atual, que necessita de mudança, como a realidade da posição de quem somos em Deus e o que podemos alcançar Nele.

Hoje minha missão e meu ministério é tentar promover o envolvimento das pessoas com a Palavra de Deus, desde a leitura bíblica até o estudo e a compreensão. Acredito que é uma grande necessidade.

Guiame: Nos últimos anos, você tem pregado cada vez mais em igrejas de diversas nações. Qual é a sua percepção entre a igreja brasileira e outras igrejas pelo mundo?

Luciano: Conhecemos alguns grupos que praticam determinados erros ou escândalos e percebemos que pagamos uma conta generalizada por eles. Mas tem a parte boa. Eu ouço muito, principalmente de líderes da Europa, que o Brasil pode ser terceiro mundo na economia, mas que eles estão olhando para a igreja brasileira como primeiro mundo — desde o nível de crescimento, nível de palavra, louvor e adoração até a capacidade que o brasileiro tem tido de dar uma resposta melhor a missões do que no passado.

Eu acho que as duas coisas precisam chamar a nossa atenção. Tem muita coisa para ajustar e melhorar, mas tem muita coisa boa acontecendo. Eu rodo o Brasil há muito tempo e as pessoas me dizem: ‘Você deve ver muita coisa errada’. Eu vejo. Mas também vejo muita coisa certa. Deus está fazendo coisas lindas e extraordinárias em gente que não é conhecida por todo mundo. Notícia ruim corre mais do que a boa, mas as duas coisas têm acontecido.

Precisamos não só de avivamento, na minha opinião, precisamos de reforma, de uma volta à Palavra. Mas por outro lado, eu estou feliz de ver que muita coisa boa tem acontecido. Igrejas despertando, amadurecendo, trabalhando com seriedade, entendendo que o ministério não é uma profissão — deve ser reflexo de um compromisso com Deus, de caráter. Esse outro lado tem me trazido um pouco de ânimo e alegria em relação à igreja.

Guiame: Durante a ministração, você disse que não é o Reino que está a nosso serviço, nós é que estamos à serviço do Reino. O que representa o nosso trabalho no Reino de Deus?

Luciano: Às vezes achamos que é muito pouco o que temos a fazer diante da necessidade. Mas a verdade é que se entendermos que todo mundo recebeu uma comissão pequena de Deus e todos fizessem a sua parcela, no final teríamos um resultado extraordinário.

Há pouco tempo, nós estávamos em uma campanha para reformar um auditório novo que entramos como igreja, e volta e meia eu dizia para eles: ‘Não precisamos de pouca gente dando muito. Nós precisamos de muita gente dando pouco. O resultado é o mesmo’. Se pouca gente der muito, fica pesado para alguns e os outros não fazem nada. Agora se todo mundo fizer um pouco, juntos nós vamos ter muito resultado.


Pastor Luciano Subirá durante entrevista ao Portal Guiame. (Foto: Guiame/Marcos Corrêa)

Quando falamos em termos de trabalho da igreja, vamos analisar: o Brasil hoje tem 208,5 milhões de habitantes. Acredita-se que estamos perto de 50 milhões de evangélicos na nação, segundo o último Censo. Isso significa que já somos ¼ da nação. Uma reportagem de capa da revista Veja dizia que no máximo até 2040 o Brasil seria uma nação predominantemente evangélica. Isso não é profecia, é estatística, é projeção do IBGE. Se cada crente brasileiro hoje ganhasse outros três para Jesus, teríamos uma nação inteira aos pés do Senhor. Se cada crente ganhasse só um, já teríamos metade da nação servindo a Deus. Só que, às vezes, temos o evangelista que quer ir para a TV ganhar as multidões e a maioria que não faz nada. Se entendermos que todo mundo tem esse chamado ao trabalho, mesmo que numa proporção aparentemente pequena, juntos produziríamos muito resultado.

Guiame: Muitos estados com o altos índices de evangélicos não tem produzido grandes transformações na sociedade. Por quê?

Luciano: Acredito que temos pregado um Evangelho muito diluído. Nós tínhamos que estar produzindo transformação. De fato, mesmo nos estados mais evangélicos, notamos que a fibra moral da sociedade ainda não está sendo afetada. Temos alguns exemplos. Santarém, no Pará, já foi considerada uma das cidades mais violentas do Brasil. Recentemente, a Veja publicou uma reportagem a colocando entre as dez cidades, até um certo porte, de melhor qualidade de vida e segurança. E temos visto a igreja crescer vertiginosamente lá. É um lugar que dá para dizer: estão fazendo a diferença. Mas ainda é uma exceção, não é a regra.

Ainda pregamos muito o Evangelho de resolver um problema imediato e pouco de mudar a conduta e o estilo de vida de forma permanente. Em lugares onde, além do evangelismo, há um trabalho forte de discipulado — que chamamos de pós-conversão — vemos mais resultado. Mas de uma forma geral, na igreja brasileira, se o cara acredita que escapou do inferno, ele não precisa ser um crente sério. E isso é uma realidade que a próxima geração vai ter que trabalhar pesado para reverter. Antigamente o número de crentes era menor, mas o testemunho era melhor. Hoje nós temos um volume maior de crentes e o impacto do nosso testemunho é cada vez menor. É uma mudança que precisamos com urgência.

Guiame: O problema está na falta de discipulado ou há algo a mais?

Luciano: É difícil atribuir a um fator só. Mas de forma geral, o ensino dos púlpitos hoje está em resolver o problema imediato. Você tem que superar a sua dor, o seu problema familiar, você precisa de cura, mudança nas finanças. Eu não sou contra isso, porque o Evangelho também tem que tocar essas áreas. Mas quando começamos a limitar demais a ação de Deus para apenas uma situação do momento e não pensamos no cristianismo como um projeto de vida, deixamos de preparar os irmãos para entenderem a forma como eles viverão lá na frente.

Conduta era algo muito ensinado nas epístolas — o que antes roubava, agora não roube mais; o que antes mentia, agora não minta mais. O padrão de comportamento era muito levantado e, hoje em dia, se fala muito pouco do peso do testemunho. A nossa dificuldade hoje de ganhar pessoas para Jesus é que temos um Evangelho um tanto quanto desacreditado. Se não conseguirmos produzir mudanças de mentalidade sobre o que é a conduta, vamos ter problemas muito sérios nas próximas gerações.

Eu clamo a Deus e peço que isso mude. Temos visto ministérios que não foram chamados para um ensino profundo; eles são encorajadores, libertadores, evangelistas. Mas acredito que muitos pastores e líderes de igreja local, se não têm um chamado para um ensinamento bíblico profundo, têm que dar um espaço para pessoas na equipe deles que cumpra esse papel.

Pastor Luciano Subirá em conferência na Igreja Apostólica Restaurando Nações, no Japão. (Foto: IARN Japan)

Guiame: Para uma igreja pequena que não tenha muita estrutura, qual seria o caminho?

Luciano: Alguns pastores são verdadeiros heróis. Eles não foram para o seminário e não tiveram tempo de se preparar. São pessoas que se converteram, começaram a evangelizar, ganhar pessoas e temos que aplaudir esses caras. Mas a falta de conhecimento dos líderes acaba se reproduzindo no povo, porque eles acabam não tendo o que transmitir. Antigamente a pessoa tinha que parar tudo, ir para o seminário e gastar anos se preparando. A parte boa hoje é que, com a internet, podemos superar o problema da distância e os líderes podem ser treinados enquanto cuidam de sua igreja.

Nosso ministério tem procurado trabalhar com o ensino à distância. Não só as pregações, os livros, mas temos produzido cursos online onde podemos trabalhar o ensino de doutrinas. Rodando pelo Brasil, eu ouço muito pastores dizendo que chegaram ao ministério sem muito preparo, mas graças aos nossos materiais conseguiram ser formados à distância.

Minha meta para os próximos anos é tentar ajudar a fortalecer cada vez mais os líderes que já estão prontos. Acredito que a igreja pode ter essa nova safra de líderes que não frequentou o seminário, mas não podemos ter pessoas que não conhecem a doutrina. Então, em algum momento, eles vão ter que tirar o atraso e, quanto mais rápido, melhor.

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Guiame: Como está sendo a experiência de ministrar no Japão?

Luciano: Uma coisa que gostei muito aqui é essa interação com os japoneses. A tradução é feita em japonês, as músicas são cantadas em japonês. Muitas igrejas brasileiras no exterior se fecham em verdadeiros guetos meramente brasileiros. Qual o problema dessa igreja? A próxima geração. Os filhos estão sendo alfabetizados na língua do país local, os amigos deles não são brasileiros e eles não vão conseguir evangelizar esses amigos ou trazê-los para a igreja. Também vi isso acontecer no Brasil. No sul, por exemplo, havia igrejas que faziam cultos em alemão e eles não conseguiram manter seus filhos e netos. Essas igrejas começaram a diminuir e quem não migrou para o português ficou fadado a terminar. Nós temos que servir a nação onde estamos. Fiquei feliz de ver a interação com os japoneses e não só os brasileiros.

Pastor Luciano Subirá em conferência na Igreja Apostólica Restaurando Nações, no Japão. (Foto: IARN Japan)

Fonte/ Guiame

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