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Intimidade com Cristo

 

Daniel Lima

Sua vida foi um estudo de contrastes. Nasceu escravo, ameaçado de morte, mas foi criado no palácio como membro da família real. Começou a vida adulta como príncipe, mas se tornou um fugitivo da justiça. Foi acolhido como refugiado estrangeiro e se tornou pastor de cabras. Teve um encontro transformador com Deus, desafiou o rei mais poderoso da época, tornou-se libertador do seu povo, líder de uma nação de escravos e mediador entre Deus e o povo. Ao final da vida, viu a terra prometida, mas não pôde entrar…

Como você encara este momento final da vida de Moisés? Talvez você sinta uma pontada de pena, quem sabe até achando que Deus foi excessivamente rigoroso com ele. No entanto, Moisés não se revoltou contra Deus; ele parece aceitar muito tranquilamente seu destino. A mim, parece que ele se deu conta de que aquilo pelo que ele realmente ansiava era estar com Deus, e não entrar na Terra Prometida. Afinal, o que é a terra de Canaã se não se tem intimidade com Deus? Em seu excelente livro sobre a alma da liderança, a autora Ruth Haley Barton escreve:

Todas as suas experiências de discernir e fazer a vontade de Deus o haviam trazido a um ponto em que ele sabia, do fundo do seu coração, que a vontade de Deus era o melhor que podia acontecer com ele em qualquer circunstância. Certamente ele tinha a percepção de que a terrível solidão – a qual ele tinha enfrentado durante toda a sua vida – seria agora irrevogavelmente erradicada […] para Moisés, a presença de Deus era a Terra Prometida.[1]

No artigo anterior desta série, “Terminando bem”, alistamos cinco hábitos de cristãos que terminaram bem, que completaram o chamado de Deus para as suas vidas. O primeiro hábito é cultivar intimidade com Cristo. O significado deste hábito inclui, mas supera em muito manter meramente uma rotina devocional. Desenvolver uma vida de intimidade com Cristo inclui um compromisso e um foco que podem nos levar ao ponto em que estar com Deus é nossa Terra Prometida. Tudo o mais perde seu brilho diante disso.

Diferente de um casamento, o objeto de nosso amor em nossa relação com Deus nunca vai nos frustrar ou decepcionar.
Eu vejo paralelos entre esse tipo de intimidade com Deus e a intimidade de um casamento (Efésios 5.21-30). Nossa caminhada com Cristo também começa com um período de paixão em que tudo o mais é trocado para estar com a pessoa amada. No entanto, com algum tempo de convivência, todo cônjuge precisa enfrentar a barreira da rotina. Este é o momento em que nos acostumamos com a pessoa com quem casamos. Os encantos parecem comuns e os incômodos se sobressaem. Diferente de um casamento, por mais saudável que seja, o objeto de nosso amor em nossa relação com Deus nunca vai nos frustrar ou decepcionar. Ainda assim, parece que nos acostumamos com o sobrenatural. Assim como o povo de Israel no deserto, os milagres de ontem parecem não chamar nossa atenção hoje. E esse é o momento em que precisamos investir em nosso relacionamento. Precisamos retomar o mesmo caminho que nos levou a nos apaixonarmos.

Como fazer então para cultivar essa intimidade, especialmente quando ela não é tão natural? A palavra que me vem à mente é renovação. Precisamos cultivar momentos de renovação de nossa intimidade com Deus. Minha relação com Deus inclui o ritmo normal de comunicação: ler e refletir sobre a Bíblia (2Timóteo 3.16-17), orar (Efésios 6.18) e compartilhar com outros cristãos o que tenho aprendido (Colossenses 3.16). No entanto, quando essa intimidade parece distante, preciso fazer alguns investimentos a mais para retornar à intimidade prazerosa: tempos especiais de solitude (Mateus 14.23) e meditação (Salmo 143.5). Deixe-me explicar cada um destes hábitos:

Leitura e Reflexão Bíblica – não uma leitura corrida de algum texto aleatório, mas a leitura sequencial e demorada do texto bíblico na expectativa de ouvir Deus se revelar por meio de sua Palavra. Para as pessoas de minha geração (ainda usávamos cartas escritas…), ler uma carta da pessoa amada não era um ritual rápido e único. Eu lia as cartas mais de uma vez, procurando curtir aquelas palavras, enquanto buscava um sentido mais profundo e imergia nas lembranças da pessoa distante.

Oração – toda comunicação é feita de vários níveis, desde o mais corriqueiro até o mais profundo. Nosso tempo de oração deveria incluir as orações rápidas de agradecimento por coisas tão comuns como uma refeição até momentos em que nos faltam palavras para expressar nosso coração. É tolo quem acha que manterá uma relação profunda com apenas os níveis mais superficiais de comunicação.

Compartilhar com outro cristão – todo o Novo Testamento aponta para o fato de que somos chamados para viver em comunhão. Na verdade, o valor do individualismo, tão comum em nossos dias, vai diretamente contra o ensino de Jesus! Ao compartilhar com outro cristão o que tenho aprendido eu estou abençoando e sendo abençoado. Ao ouvir de suas experiências com Deus sou estimulado a buscar mais e mais a minha própria intimidade com Deus.

Desenvolver uma vida de intimidade com Cristo inclui um compromisso e um foco que podem nos levar ao ponto em que estar com Deus é nossa Terra Prometida.
Solitude – há momentos em que preciso separar um tempo especial para estar a sós com Deus. Preciso me isolar do barulho, de minhas atividades, de minhas demandas e ritmos costumeiros para investir um tempo longo com Cristo. Se isso é tão necessário em nossas relações humanas, como não fazer o mesmo em nossa relação com Deus? Para mim estes são momentos de ouvir e falar sem agenda, sem temas pré-definidos. São momentos de deixar que o próprio Espírito de Deus dirija nossa conversa.

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Meditação – muito embora eu precise refletir sempre sobre o que estou aprendendo, há momentos em que preciso meditar, ou seja, investir um tempo mais prolongado para deixar minha mente se aprofundar em conceitos e verdades sobre mim mesmo, sobre a vida e especialmente sobre Deus. Estes momentos não podem ser apressados, ou nossa tentação de concluir pode nos roubar de algo mais precioso que Deus tem reservado para nós.

Não sei como você tem cultivado sua intimidade com Deus, mas minha sincera oração é que ela seja construída com hábitos costumeiros e momentos de renovação. Afinal, se somos seguidores de Cristo, estar a seus pés é o mais importante (Lucas 10.41-42)!

Nota

Ruth Haley Barton, Strengthening the Soul of Your Leadership: Seeking God in the Crucible of Ministry (Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 2012), Kindle Edition, p. 214.

Daniel Lima foi pastor de igreja local por mais de 25 anos. Formado em psicologia, mestre em educação cristã e doutorando em formação de líderes no Fuller Theological Seminary, EUA. Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida por 5 anos, é autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem 4 filhos e vive no Rio Grande do Sul desde 1995.

Fonte/ chamada.com

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