CRÔNICA DA IGREJA QUE PULA

“Jesus contou a seguinte parábola, mostrando aos discípulos que deviam orar sempre e nunca desanimar” Lucas 18.1.

“Uma raposa que vinha pela estrada encontrou uma parreira com uvas madurinhas. Passou horas pulando tentando pegá-las, mas sem sucesso algum. Saiu murmurando, dizendo que não as queria mesmo, porque estavam verdes. Quando já estava indo, um pouco mais à frente, escutou um barulho como se alguma coisa tivesse caído no chão. Voltou correndo pensando ser as uvas, mas quando chegou lá, para sua decepção, era apenas uma folha que havia caído na parreira. A raposa decepcionada virou as costas e foi-se embora” [Fábula de Esopo (séc. VI a.C) reescrita por Jean de La Fontaine (1621-1695)].

Embora a alegoria seja tosca, imagine comigo: a raposa é a igreja e as uvas são os santos objetivos que Deus traçou. A igreja-raposa pula por anos a fio na tentativa de alcançar os propósitos divinos (as uvas); porém, não os alcança. Por quê? Simplesmente porque faz tudo o que ela mesma acha necessário fazer: pula com SUAS próprias forças; pensa com SUA própria sabedoria; escolhe o cacho com SEU próprio discernimento; vangloria-se com o SEU próprio “sucesso”. Busca a SUA excelência; alimenta-se de SEU próprio discurso; decide com SUA própria experiência… e pula, pula, pula e não alcança o que Deus sempre quis que ela alcançasse.

Lembro-me quando contava essa fábula para algumas crianças. Ao terminar o conto, preparava-me para dizer a moral da estória quando a Taiane, de quatro anos, interrompeu-me:

“Você sabe por que a raposa não alcançou as uvas, tio?”

“Não”, respondi.

“É porque ela não orou antes”.

Sorri e, com o ar de sabe-tudo, respondi:

“Taiane, minha querida, raposas são animais irracionais, elas não falam, por isso, não podem orar”.

“É, mas, também, raposas não comem uvas; elas comem galinhas”, afirmou o Bruno, de cinco anos,

Dei-me por vencido e fiquei com a reflexão:

“AS IGREJAS DEVERIAM ORAR MAIS E PULAR MENOS”.

Marcos Gruvira