Após 5 anos do sequestro em Chibok, 112 meninas continuam cativas
Pais ainda têm esperança de que filhas voltem com vida e agradecem pelo apoio de cristãos de todo o mundo
Hannatu Dauda segura foto da filha sequestrada, Saratu, enquanto ora para que ela volte com vida
Hoje faz cinco anos que a vida dos moradores do vilarejo de Chibok, no estado de Borno, no norte da Nigéria, mudou para sempre. Na noite de 14 de abril de 2014, 275 meninas, em sua maioria cristãs, que estavam na escola secundária, foram surpreendidas no meio da noite por militantes do Boko Haram. Delas, cerca de 230 foram levadas em caminhões pelos militantes enquanto a escola era posta em chamas.
Exatamente 47 meninas conseguiram escapar durante e logo após o sequestro. Depois disso, cada uma delas tem sua própria história de horror e trauma para contar. Algumas meninas escaparam ao longo do tempo e o Boko Haram libertou 21 em outubro de 2016 e outras 82 em maio de 2017. O presidente da Associação de Pais de Chibok, Yakubu Nkeki Maina, diz que 112 meninas cristãs ainda não foram libertadas. Ninguém sabe quantas ainda estão vivas.
Rifkatu, querida por todos
Uma das mães que a Portas Abertas tem visitado regularmente ao longo desses 1.825 dias de cativeiro, Yana Gana, nos contou um provérbio do povo haussa que diz “feridas recentes sempre doem muito”. Para ela, o sequestro da filha, Rifkatu, é como uma “ferida recente”, apesar de já terem se passado cinco anos. “Toda vez que falo de Rifkatu, sinto muita dor em meu coração. Ela nunca se importava se suas outras duas irmãs não ajudavam nas tarefas de casa. Ela acordava, limpava a casa e fazia o café da manhã antes que todos nós levantássemos. Nenhuma das meninas da comunidade vai à igreja, mas Rifkatu ia”, conta Yana.
Após a libertação dos dois grupos de meninas, houve pouco desenvolvimento no caso do sequestro de Chibok, apenas especulações. Yana tenta exercer paciência, esperando para ver o que Deus vai fazer, mas a ausência da filha é uma carga pesada de carregar. Ainda mais para a irmã mais nova de Rifkatu, que está mais traumatizada que a mãe. Yana explica: “Elas eram muito próximas, vestiam as mesmas roupas, mesmos sapatos, amarravam o véu do mesmo jeito. Nunca vi duas pessoas que se amavam tanto como elas duas”. Por medo de perder também a filha mais nova, Yana a enviou para estudar em Yola.
Rifkatu também é lembrada como uma especialista em trançar cabelos, e sua ausência é sentida por toda a comunidade. Uma das senhoras que era “cliente” de Rifkatu passou dois anos sem poder ver Yana porque não aguentava a ausência de Rifkatu. Quando finalmente foi visitá-la, chorou inconsolavelmente.
Esperança que não morre
Mas Yana continua esperando a volta da filha e diz: “Mesmo que passe dez anos, não vou perder a esperança, porque ela foi sequestrada viva. Só se a matarem e me mostrarem o corpo, vou parar de esperar seu retorno. Até lá, vamos esperar que ela volte, não importa quanto tempo leve. Acredito que Deus fará um milagre e as meninas serão soltas. Porque essa batalha não é contra carne, somente Deus pode ganhá-la. Somente ele pode abrir um caminho onde não há, para que ela volte”.
Outra mãe com quem temos contato, Hannatu Dauda, mãe da menina sequestrada Saratu, também tem esperança. Ela afirma: “Por causa da condição em que nos encontramos, não temos nenhum outro lugar para ir a não ser a Deus. Temos clamado e chorado. Oramos por nossas filhas quando andamos na rua, quando nos sentamos em casa, quando dormimos, nunca paramos de orar”. Hannatu conta que frequentemente adverte seus outros filhos: “Mesmo que eu morra hoje, não deixem de esperar que Saratu volte. E se acontecer de ela ser solta, abracem-na. Mesmo que o mundo a odeie ou despreze, apertem minha filha aos seus corações”. Segurando uma foto da filha, Hannatu declara: “Eu tenho muita esperança de que ela está viva e de que Deus a trará de volta para mim. Se Deus quiser, um dia minhas lágrimas serão enxugadas”.
Meninas “livres”
As meninas que foram libertadas mudaram-se para a Universidade Americana de Yola, no estado de Adamawa. Elas estão bem, são cuidadas e ocupam uma posição única, pois têm pessoas dedicadas a cuidar delas, como o reitor, o pastor e um psicólogo. Elas estão bem fisicamente, recuperando os anos de estudo que perderam e se curando dos traumas em grupo. Elas passaram por períodos de fome, escravidão, abuso sexual, traumatismos e ferimentos de batalha, como estilhaços sob a pele, e até mesmo parte da perna de uma delas foi amputada. Elas viram pessoas, inclusive crianças, morrerem.
No entanto, desde que chegaram à universidade, em setembro de 2017, o ambiente em que vivem é controlado. Elas só podem sair do campus com escolta só podem receber visitas com permissão. Elas raramente veem a família ou vão a Chibok, que é uma viagem de quatro horas de carro. Só o fazem duas vezes ao ano. Então estão livres, mas sob certas condições.
“Obrigada por compartilhar nossa dor conosco”
Com as contribuições de nossos parceiros, a Portas Abertas tem caminhado com os pais de Chibok através de ajuda emergencial em forma de comida, remédio e apoio espiritual através do ministério de presença, oração e aconselhamento pós-trauma. Nós continuamos com eles em oração. Yana agradece: “Quero dar a todos que oram por nós uma palavra de gratidão. Obrigada por compartilhar nossa dor conosco. Nós, povo de Chibok, agradecemos ao mundo. Se ficássemos sozinhos em Borno, todos os pais tinham morrido. Mas cristãos de todo o mundo ficaram ao nosso lado. Vocês nos convidaram para aconselhamento pós-trauma, oraram conosco, estudaram a Bíblia conosco e, através de tudo isso, fomos capazes de permanecer firmes. Colocamos toda nossa confiança e dependência em Deus, sabendo que ele é o único que pode nos salvar. Agradecemos a todos que ficaram conosco de várias formas no nosso tempo de dor”
Fonte / Portas Abertas
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