Você vê tudo através da Cruz? – C.H. Spurgeon
Você vê tudo através da cruz? | C. H. Spurgeon
Nós devemos olhar tudo o que há neste mundo sob a luz da redenção, e assim o veremos corretamente. Faz uma diferença maravilhosa se você vê a providência do ponto de vista do merecimento humano ou do pé da cruz. Não vemos nada do modo real enquanto não o vemos através do vidro, o vidro vermelho do sacrifício expiatório. Use esse telescópio da cruz e então verá longe e claramente; olhe os pecadores através da cruz; olhe as alegrias e tristezas do mundo através da cruz; olhe o céu e inferno através da cruz. Veja o quanto era para ser realmente visível o sangue da Páscoa, e então aprenda de tudo isso a dar importância verdadeira ao sacrifício de Jesus–sim, dar-lhe toda a importância, pois Cristo é tudo.
Nós lemos em Deuteronômio, no sexto capítulo, versículo oito, com respeito às ordens da lei do Senhor, o seguinte: “Amarre-as como um sinal nos braços e prenda-as na testa. Escreva-as nos batentes das portas de sua casa e em seus portões.” Observe, então, que a lei deve ser escrita logo ao lado dos memoriais do sangue. Na Suíça, nas vilas protestantes, podiam ser vistos textos da Escritura nos umbrais das portas. Seria tão bom que tivéssemos esse costume na Inglaterra. Quanto do evangelho poderia ser pregado aos passantes se textos bíblicos estivessem acima das portas dos cristãos! Poderia ser ridicularizado como farisaísmo, mas poderíamos nos acostumar. Poucos são sujeitos, nos dias de hoje, à acusação de serem religiosos demais. Eu gosto de ver textos da Escritura em nossos lares, em todos os cômodos, nas molduras acima das portas, e nas paredes; mas do lado de fora da porta – que beleza de anúncio o evangelho poderia ter por preço tão econômico.
Mas note que, quando o judeu escrevia nas colunas de sua porta uma promessa, um preceito ou uma doutrina, ele tinha de escrever sobre uma superfície manchada de sangue, e quando a Páscoa do ano seguinte chegava, ele tinha de aspergir o sangue com hissopo bem em cima da escrita. Parece-me ótimo pensar na lei de Deus ligada àquele sacrifício expiatório que o engrandeceu e o tornou honrável. Os mandamentos de Deus vêm para mim como homem remido; suas promessas são para mim como homem comprado pelo sangue, seu ensino me instrui como pessoa por quem a expiação já foi feita. A lei na mão de Cristo não é uma espada para nos matar, e sim uma jóia para nos enriquecer. Toda a verdade aceita em relação à cruz é muito incrementada em seu valor. A Santa Escritura torna-se preciosa sete vezes mais quando vemos que ela vem a nós como sendo remidos do Senhor, e traz em cada página marcas daquelas mãos queridas que foram pregadas na cruz por nós.
Agora, é possível compreender como tudo foi feito que bem podia ser pensado de modo que elevasse o sangue do cordeiro pascoal a uma alta posição na estima das pessoas que o Senhor tirou do Egito; e você e eu precisamos fazer tudo que podemos para trazer à frente, e conservar diante dos homens para sempre, a preciosa doutrina do sacrifício expiatório de Cristo. Ele foi feito pecado por nós, embora nenhum pecado conhecesse, para que nele nós pudéssemos ser feitos a justiça de Deus.
E agora quero lhes fazer lembrar da instituição que era ligada à memória da Páscoa. “Quando os seus filhos lhes perguntarem: ‘O que significa esta cerimônia?’, respondam-lhes: ‘É o sacrifício da Páscoa ao Senhor'” (Êx 12.26-27a).
Investigação é coisa que deve ser estimulada na mente de nossas crianças. Ah, se pudéssemos levá-las a fazer perguntas sobre as coisas de Deus! Alguns perguntam bem cedo, outros parecem ter herdado o mal da indiferença que as pessoas mais velhas têm. Temos de lidar com os dois tipos de mente. É bom explicar às crianças a ordenança da Ceia do Senhor, pois isso mostra bem a morte de Cristo em símbolo. Sinto pena de que as crianças não vejam com maior freqüência essa ordenança. Os dois, o Batismo e a Ceia do Senhor, devem ser feitos à vista da geração que surge para que então nos perguntem: “O que significa essa cerimônia?” Ora, a Ceia do Senhor é um perene sermão evangelístico, e fala principalmente sobre o sacrifício do pecado. Você pode banir essa doutrina da expiação do púlpito, mas ela sempre viverá na igreja através da Ceia do Senhor. Você não pode explicar aquele pão partido e aquele copo cheio do fruto da vide sem referência à morte expiatória de nosso Senhor. Não pode explicar “a comunhão do corpo de Cristo” sem incluir, de uma forma ou outra, a morte de Jesus em nosso lugar e posição. Deixe que os seus pequenos, então, vejam a Santa Ceia, e que lhes seja explicado bem claramente o que ela apresenta. E se não a própria Ceia do Senhor–pois isso não é a coisa em si, mas só a sombra do fato glorioso–, demore-se muito e com freqüência nos sofrimentos e morte de nosso Redentor. Deixe que pensem no Getsêmane, e no Gabata (o local do Pretório), e no Gólgota, e que aprendam a cantar em tons melancólicos sobre aquele que deu sua vida por nós. Diga-lhes quem foi aquele que sofreu e por quê. Sim, embora o hino não seja bem ao meu gosto em algumas de suas expressões, gostaria que as crianças cantassem:
Mui longe o monte verde está
Fora dos muros de Jerusalém.
E eu gostaria que aprendessem versos parecidos com estes, de hinos com esta idéia:
Sabia como fomos maus,
Que Deus teria que castigar.
Então Jesus ofereceu
Morrer – em nosso lugar.
E quando a atenção é despertada para o melhor dos temas, estejamos preparados para explicar a grande transação pela qual Deus é justo, e ainda assim, os pecadores são justificados. As crianças podem entender muito bem a doutrina do sacrifício expiatório; a intenção foi mesmo que fosse um evangelho que até o mais novo pudesse apropriar. O evangelho da substituição é uma grande simplicidade, embora seja um mistério. Não devemos nos contentar até que nossos pequeninos conheçam e confiem no Sacrifício completado por eles. Isso é conhecimento essencial, e a chave para todo ensino espiritual. Que nossas queridas crianças conheçam a cruz, e já terão começado bem. Com todas as coisas que aprendem, que possam aprender a compreender isso, e já terão um fundamento bem construído.
Para isso, você deverá ensinar à criança que ela necessita de um Salvador. Você não pode se omitir dessa tarefa. Não bajule a criança com bobagens sobre sua natureza ser boa e precisar ser desenvolvida. Diga-lhe que precisa nascer de novo. Não a encoraje com a imaginação de sua própria inocência, mas mostre-lhe seu próprio pecado. Mencione os pecados infantis aos quais ela se inclina, e ore para que o Espírito Santo trabalhe a convicção no seu coração e na sua consciência.
Lide com os novos como lida com os velhos. Seja completo e honesto com eles. Religião frágil não é boa nem para jovens nem para velhos. Esses meninos e meninas precisam de perdão através do sangue precioso tanto como qualquer um de nós. Não hesite em contar à criança sua situação ruinosa; senão ela não há de querer o remédio. Diga-lhe também qual é o castigo do pecado, e avise-a de seu terror. Seja terno, mas seja verdadeiro. Não esconda do pecador jovem a verdade por mais terrível que possa ser. Agora que chegou aos anos de responsabilidade, se não acreditar em Cristo, ficará numa situação desfavorável com ele no grande dia final. Coloque diante dela o trono do grande julgamento, e lembre-a de que terá de dar contas das coisas feitas no corpo. Trabalhe para acordar a consciência; e ore a Deus pelo Espírito Santo para trabalhar junto a você até que o coração se enterneça e a mente perceba a necessidade da grande salvação.
As crianças precisam aprender a doutrina da cruz para que possam encontrar salvação imediata. Sou grato a Deus porque em nossa Escola Dominical nós cremos na salvação de crianças quando crianças. Quantos meninos e meninas tenho tido a alegria de ver se oferecerem para confessar sua fé em Cristo! E outra vez desejo dizer que os melhores convertidos, os convertidos mais óbvios, mais inteligentes que já tivemos têm sido os novos; e em vez de haver alguma deficiência em seu conhecimento da Palavra de Deus e das doutrinas da graça, geralmente, descobrimos terem um conhecimento encantador das grandes verdades cardeais de Cristo. Muitas dessas preciosas crianças falaram das coisas de Deus com grande prazer de coração e força de entendimento. Prossigam, queridos professores, e creiam que Deus salvará suas crianças. Não se contentem em semear princípios em suas mentes que possivelmente se desenvolvam em anos futuros, mas trabalhem por conversões imediatas. Espere frutos em suas crianças enquanto são crianças. Ore por elas para que não corram para o mundo e caiam nos males do pecado exterior, e depois voltem com ossos quebrados para o Bom Pastor; mas que possam pela rica misericórdia ser guardadas dos caminhos do destruidor, e crescer no aprisco de Cristo, primeiro como cordeiros de seu rebanho, e depois como ovelhas de sua mão.
De uma coisa estou certo: se ensinarmos às crianças a doutrina da expiação em termos inconfundíveis, estaremos agindo de forma muito boa. Às vezes, espero que Deus avive sua igreja e a restaure à antiga fé através de um trabalho da graça entre as crianças. Se ele trouxesse para dentro de nossas igrejas um grande influxo de crianças, como isso poderia apressar o sangue indolente dos preguiçosos. As crianças cristãs tendem a manter a casa animada, viva. Suspiramos por mais delas! Se apenas o Senhor nos ajudar a ensinar as crianças, nós estaremos ensinando a nós mesmos. Não há melhor modo de aprender do que ensinar, e você não sabe nada enquanto não consegue ensiná-la para outra pessoa. Você não conhece nenhuma verdade completamente enquanto não a coloca diante de uma criança para que ela possa vê-la. Ao tentar fazer uma criancinha entender a doutrina da expiação, você conseguirá ter visões mais claras dela, e por isso eu lhe recomendo esse exercício santo.
Que bênção será se nossas crianças forem bem enraizadas na doutrina da redenção por Cristo! Se elas forem avisadas contra os falsos evangelhos desta má era, e se forem ensinadas a descansar na rocha da obra completada de Cristo, poderemos esperar que a geração depois da nossa manterá a fé, e que será melhor do que seus pais foram.
Vejam, suas escolas dominicais são louváveis, mas qual é o propósito delas se vocês não ensinam nelas o evangelho? Vocês reúnem as crianças e as mantêm quietinhas por uma hora e meia, e depois as mandam para casa; mas qual é o proveito disso? Pode dar um pouco de sossego para os pais e as mães, e é por isso, talvez, que eles os mandam para a escola; mas todo o verdadeiro bem está naquilo que é ensinado às crianças. A verdade mais fundamental deve ser colocada como a mais importante, e qual será ela se não for a cruz? Alguma conversa com as crianças sobre ser bons meninos e meninas etc. e tal; isto é, pregam a lei às crianças, embora queiram pregar o evangelho aos adultos. Isso é honesto? É prudente? As crianças precisam do evangelho, do evangelho todo, o evangelho autêntico, sem ser adulterado; devem recebê-lo, e se são ensinadas pelo Espírito de Deus, são tão capazes de recebê-lo como pessoas de idade madura. Ensine aos pequenos que Jesus morreu, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus. Confiante, entrego esse trabalho aos professores. Nunca conheci uma equipe mais nobre de homens e mulheres cristãos, pois são tão sinceros em sua ligação com o velho evangelho como são ansiosos pela salvação de almas. Sintam-se encorajados; o Deus que salvou tantas de suas crianças salvará muitos mais delas, e teremos grande alegria à medida que vemos centenas trazidas a Cristo.
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