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Flávio Dino: No turismo, Brasil precisa evitar fama de país caro

O Brasil corre o risco de ficar com a fama de país caro. O alerta vem do presidente da Embratur, Flávio Dino, para quem o desafio na Copa-14 não é construir estádios ou atrair estrangeiros em crise.

Em entrevista à Folha de S.Paulo, afirma que acendeu a luz amarela no assunto preço. Isso por causa da combinação de moeda valorizada, demanda interna aquecida e pouca diversificação dos roteiros.

Defensor de desonerações para o setor como forma de baratear os pacotes para o Brasil, Dino afirma que é preciso atualizar a agenda do governo. Apesar da crítica, diz que o bordão “imagine na Copa” ouvido nos aeroportos está errado: “Haverá transtornos, mas não será o caos”.

Há sete meses no cargo, o maranhense nega que seja problemática a relação com o ministro Gastão Vieira (Turismo), do PMDB, aliado do senador José Sarney, seu adversário político. Ainda assim, o juiz comunista leva na carteira três imagens de santos. Entre eles, santo Expedito, o das causas impossíveis.

Folha de S.Paulo: Como está o plano de abrir escritórios para promover o Brasil em outros países?

Flávio Dino: Serão 13 escritórios nos principais emissores de turistas para o Brasil e ao mesmo tempo nos mercados estratégicos em crescimento no mundo. Teremos nos EUA, na América do Sul, na Europa e na China -a classe C deles tem 300 milhões de pessoas. Hoje a China não é um grande emissor de turista para o Brasil, mas pode vir a ser. Os escritórios produzirão inteligência comercial para o Brasil. A relação não será com o público final, mas com agências e operadoras. É um contrato de R$ 10 milhões por ano. Até o fim do ano queremos estar com todos abertos.

Folha de S.Paulo: Os grandes eventos serão o foco para os escritórios?

Flávio Dino: Serão um dos ganchos, mas não podemos pensar na promoção ancorada exclusivamente nos megaeventos. Eles são o tempero, não a cereja do bolo. Encadeamos um ciclo virtuoso e os megaeventos ajudam. Estamos conseguindo aumentar o número de turistas estrangeiros no Brasil, apesar do câmbio e da crise internacional.

Folha de S.Paulo: Como crescer com o mundo empobrecendo?

Flávio Dino: Mesmo com 2010 e 2011 tendo sido anos difíceis nos principais emissores para o Brasil, ainda assim, continuamos a crescer. O que prova que a aposta é correta.

Folha de S.Paulo: Como foi compensado o fluxo dos países tradicionais?

Flávio Dino: Levantamentos preliminares confirmam tendência de 2010, quando os mercados que mais cresceram foram os da América do Sul. A teoria do turismo internacional mostra que o fluxo é mais forte nos mercados de proximidade. É o turismo de baixo custo. No Brasil, somente 46% dos turistas estrangeiros eram da América do Sul que, agora, vive um bom momento.

Folha de S.Paulo: Mas ainda se precisa do turista do mundo rico…

Flávio Dino: Nessa questão do preço do destino Brasil, diria que estamos numa avenida e o semáforo acendeu a luz amarela.

Folha de S.Paulo: Por quê?

Flávio Dino: Temos excesso de demanda no turismo interno e também crescimento da demanda internacional. Isso impacta o mundo dos preços. Se não aumentar a oferta, isso vai gerar aumento de preços e acenderá a luz vermelha.

Folha de S.Paulo: O Brasil tem fama de caro?

Flávio Dino: Ainda não, mas para a Embratur esse risco está claro.

Folha de S.Paulo: E para o resto do governo?

Flávio Dino: Estamos colocando para o governo. Não falei com a presidente a respeito disso. Para o ministro Gastão Vieira [Turismo], creio que sim.

Folha de S.Paulo: Como diversificar a oferta?

Flávio Dino: É preciso ampliar a infraestrutura, qualificar novos destinos, promover esses destinos. Vamos lançar um edital para apoio a voo charter. Precisamos complementar a malha aérea comercial exatamente nos destinos que não são atendidos.

Os Estados vão apresentar projetos em parcerias com operadores de turismo local e pedir apoio financeiro. Esse apoio será gasto para promover o Estado lá fora. Indiretamente impactará o custo porque vai desonerar a operadora. Vamos fazer um piloto com R$ 8 milhões.

Folha de S.Paulo: O que fazer para evitar que o país fique caro?

Flávio Dino: Defendo um plano Brasil Maior para o turismo. A concepção desse plano é apoiar setores exportadores que têm uso intensivo de mão de obra. O turismo preenche esses requisitos. Colocou US$ 6,77 bilhões no país em 2011.

Folha de S.Paulo: O que pode ser desonerado?

Flávio Dino: São muitos exemplos, como combustível de aviação. Temos espaço para discutir redução de tributação porque o turismo no Brasil depende essencialmente de avião. Outro segmento é parque temático.

Folha de S.Paulo: Há espaço para isso com cortes no Orçamento?

Flávio Dino: Somos muito baratos. Temos um problema, o deficit recorde na conta de turismo com o exterior: US$ 14,5 bilhões. O ministro Gastão Vieira tem colocado o assunto para o governo. Todo mundo diz que o turismo é muito importante, mas, no dia a dia, o assunto tem um baixo peso na agenda nacional. O desafio é atualizar a sua importância.

Folha de S.Paulo: Qual o prazo-limite para definir essas questões?

Flávio Dino: É agora, no primeiro semestre. Na pesquisa relativa a 2010, concluída em 2011, o item preço apareceu com destaque. Foi o que acendeu a luz amarela.

Folha de S.Paulo: A crise econômica pode frear os turistas estrangeiros para a Copa do Mundo em 2014?

Flávio Dino: Não. Os 600 mil turistas da Copa têm várias origens. Uns viajarão em programas de incentivo dos patrocinadores. A classe A também não sofre os efeitos da crise. Há ainda a paixão pelo futebol na América do Sul. Uma das apostas é transformar a Copa na Copa da América do Sul, o que reforça o turismo de proximidade. A batalha com os megaeventos não é realizá-los e ter aqui o turista estrangeiro. É a do legado de imagem.

Folha de S.Paulo: Por quê?

Flávio Dino: Porque isso leva décadas para reverter. A Grécia ficou marcada como um destino caro. É isso o que evitaremos.

Folha de S.Paulo: Qual a maior preocupação em relação a infraestrutura?

Flávio Dino: Os estádios caminham bem. Nos aeroportos temos o desafio do novo modelo de concessão. No caso dos hotéis, é investimento privado e temos financiamento do BNDES. Provavelmente, teremos meios alternativos de hospedagem, como em outros países. Não podemos dimensionar equivocadamente para não colocarmos um sapato 48 num pé 44. Aí, quando passar o evento, vamos ficar com um sapato 48.

Folha de S.Paulo: O senhor está de olho na classe C da América do Sul?

Flávio Dino: Quando falamos em América do Sul, falamos sobretudo na nova classe C, um fenômeno continental. O cidadão da classe C da Colômbia quer conhecer o Rio, olha o preço no Réveillon e não cabe no bolso. Podemos mostrar que há um excelente Réveillon no Nordeste, a um custo infinitamente menor. Os megaeventos são nossa chance de ouro para mostrar que o Brasil é um país que funciona, que tem estrutura, um bom museu, show…

Folha de S.Paulo: Dá tempo de fazer a promoção do Brasil para Copa?

Flávio Dino: Estamos no tempo correto, mas não podemos pensar que faremos um megaevento sem transtornos. Isso acontece em qualquer lugar. É preciso calibrar as expectativas. Aquela história do “imagine na Copa” ouvida nos aeroportos não tem razão de ser.

Folha de S.Paulo: Atrapalha o fato de o ministro do Turismo ser seu adversário político?

Flávio Dino: Não atrapalha em nada. A relação é de camaradagem.

Fonte: Folha de S.Paulo

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