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Ensinando a não aprender

Por: Chico Viana (Vereador de São Luís)

Li outro dia, e procede, que um dos sintomas de velhice, é o cidadão começar uma argumentação com uma suspirosa frase: – No meu tempo…”. Pois assim o faço, não só para enfatizar meus idos e vividos anos, mas para reforçar uma evidência cristalina que, na contra mão da história, e na inversão da lógica, em determinadas áreas, ou atividades, estamos regredindo com o tempo.

Assim, na minha época, o curso primário tinha três anos, segunda, terceira e quarta série. Obrigatoriamente começava-se com sete anos de idade e não se fazia o exame de admissão, o mais difícil dos “vestibulares” a que me submeti, ao velho Liceu, antes de completar dez anos de idade. O primeiro ano, à rigor não fazia parte do primário, o município disponibilizava aulas para alfabetização nas famosas cartilhas de ABC onde as quatro operações e a cantilena do “vovô viu a uva”, se misturavam para, resultar numa condição essencial para se ingressar oficialmente no 2º ano primário: saber ler . Na verdade se aprendia ler mesmo era em casa com a mesma e surrada cartilha,às custas de muita paciência, e não poucos puxões de orelha.

Hoje a coisa mudou, e ainda nas fraldas, lá vai a criança para o maternal I e II, depois vem a pré-primário, para só após desembocar no primeiro grau. E tome anos de crianças em creches de luxo que, à guisa de aprendizado, os pais transferem para a escola, por necessidade, ou por opção, a tarefa ingente de cuidar de filhos pequenos o dia inteiro, um trabalho, (e que trabalho!) a menos e um “sossego”a mais, da algaravia de crianças em criação.

Claro que há defensores ardentes que esgrimem experiência e trabalhos pedagógicos para demonstrar as vantagens do “desmame”precoce destas crianças e seu confinamento nas escolas, mas na prática a verdade parece ser outra, pelo menos para as escolas públicas.

O MEC instituiu a Prova ABC( Avaliação Brasileira do Final do Ciclo de Alfabetização , feita pelo Movimento Todos pela Educação em parceria com o Inep, a Fundação Cesgranrio e o Ibope (o Instituto Paulo Montenegro). Aplicada em alunos de todo o País de escolas públicas ou privadas, neste primeiro semestre em 6 mil alunos de todas as regiões, a avaliação abrange todas as matérias dadas até o terceiro ano do ensino fundamental, o que corresponde, todo dia mudam, ao segunda série do antigo ginasial. O resultado, divulgado em 25 de agosto desde ano, , foi estarrecedor.

A prova era simples, Cada criança respondia a 20 itens (questões de múltipla escolha) de leitura, ou de matemática. Além disso, todas elas escreveram uma breve redação, a partir de um tema único.

Na aferição considerava-se a mesma escala do SAEB ( Sistema Nacional de Avaliação de Cursos da Educação Básica) , que vai de 100 a 375 pontos. No resultado, a média nacional ficou em 171,1 pontos ,contra 175 do conhecimento esperado.

As diferenças entre as regiões do País, e a natureza da Instituição de Ensino, mais uma vez atestam a correlação entre a qualidade do ensino versus nível econômico e a completa falência do ensino público.

Na escola pública, o percentual de alunos que não atingem o nível esperado para o 3º ano nas operações básicas de somar e subtrair — chega a 67,4%. Ou seja, em um grupo de cem alunos, 67 não alcançaram o conhecimento mínimo esperado. A situação é mais crítica nas regiões Norte (78,1%) e Nordeste (74,8%).

Em escolas privadas, o índice de aprendizado em matemática( atingiram a média esperada de 175 pontos) foi de 74,3%, enquanto em instituições públicas esse índice alcança 42,9%.

Quando se trata da avaliação de português ( leitura), o resultado é mais dramático.Enquanto que a média nacional no ensino público é de 48,6%, chegando no sul a um patamar de 56,5%, o ensino privado, a média nacional, é de 74,3% .No sul chega 86,3%.

As manchetes da notícia são arrasadoras : “Mais de 40% dos alunos concluem o 3º ano do ensino fundamental sem aprendizado de leitura”,ou; 57% dos estudantes do 3º ano do ensino fundamental (antiga segunda série) não conseguem resolver problemas básicos de matemática”. Doloroso.

Nesta selva de mediocridade do ensino público, como se vê, todo o Brasil está enredado. Em São Paulo, o mais rico Estado do Brasil- Maravilha, descobriu-se em Campinas, um garoto que, aos 12 anos de idade, mesmo sendo aprovado nos anos anteriores, e cursando o 5º ano do Ensino Fundamental, só sabia a quatro letras do alfabeto, A.B,C e D e só contava de um a quatro.

A causa disso tudo dá livros, uma, porém é fundamental: a inflação de disciplinas intempestivas no ensino fundamental, no Brasil e no Maranhão, em especial.

Das cinco disciplinas básicas, dadas por uma professora só, no antigo primário, aritmética, linguagem, ciências, história e geografia, e mais algumas dadas no antigo ginasial, como uma língua estrangeira, latim e desenho, se não me engana, hoje todo dia entra mais uma matéria no currículo.Tem filosofia, sociologia,religião, música, teatro,arte visuais, dança e alguns ciclos que informam sobre Ética, Meio Ambiente, Orientação Sexual, Pluralidade Cultural, Saúde, Trabalho e Consumo, além de incentivarem a abordagem de outros temas que se mostrarem significativos. ( vide “O Ensino Primário em São Luis, Semed, 2009). Até enxadrismo e empreendedorismo, já foram proposto por alguns legisladores.

Aí não dá mesmo, para aprender a ler e fazer contas.

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