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Distorções em Cadeia

Por: Chico Viana

De início pretendo fazer uma ressalva relevante.

No artigo anterior, me referi que a demanda à saúde pública para os Socorrões provinha de 215 municípios do Maranhão, uma população estimada em 3 milhões de pessoas, quando eles sequer teriam sido projetados para a população atual da Ilha, 1.050 milhão.

Não é. Infelizmente são 6 milhões os cidadãos do interior, exceção de Imperatriz, único Pronto Socorro fora de da capital, que procuram os próprios municipais, principalmente agora que o Piauí nos escorraçou, por uma dívida de 15 milhões mensais que o Estado gastaria atendendo maranhenses de Codó para lá.

De imediato nos ocorre a indagação. Se a despesa mensal do Piauí com pacientes de uma parte do Maranhão, é de R$ 15 milhões mensais, como é que o SUS, gerido por uma comissão presidida pelo Secretário de Saúde do Estado, repassa para os Socorrões apenas R$ 2.9 milhões mensais para custear despesas que exige do Município o desembolso de R$ 7 milhões mensais? E justamente para atender uma clientela que, como no Piauí, não é de sua de responsabilidade, mas dos municípios e do próprio Estado. E pior, a Secretaria até já cobrou R$ 8 milhões do Município por atendimentos feitos a pacientes de São Luis, em suas unidades de saúde. Quais?

Mas o assunto, realmente é outro, trata-se de pletora nos hospitais particulares em São Luis. Hoje estes hospitais tem fila para atendimento de emergência, pasmem. Dezenas de pessoas acomodadas nas salas de espera aguardando horas por um atendimento. Internação, então, nem se fala. O JP relatou o infausto caso de um garoto acometido de dengue hemorrágica que faleceu, sem conseguir um leito em UTI na rede particular, mesmo às suas expensas.

Por que isso?

Primeiro, o óbvio, a falta de Unidades de Saúde que prestem serviço público. Como, se estamos tratando de deficiência de hospitais particulares? Simples, notem que eu afirmei, “falta de unidades que prestem serviço público,” e não que “sejam do serviço público.” Para isso, porém é necessário que elas,as particulares, existam e que sejam acolhidas como reforço à assistência médica oficial, sem compadrio, nem escambo político-eleitoral.

A responsabilidade primeira deveria ser de hospitais municipais ou estaduais, por exemplo em São Paulo onde o “Dante Pazzanese”, Hospital das Clínicas, Incor, são públicos e de referência no Mundo.E atendem SUS.

Bom, mas isso é em São Paulo, e estamos no Nordeste, onde a miséria é global. Nem tanto. Vamos comparar por aqui mesmo na região, e mais perto ainda, com a capital de um Estado tido como o pior do Brasil, sem a menor expressão política nacional e que nunca deu Presidente, uma penca de ministros, sem Vale, Alcoa, Porto, Terminais Petrolífero, isso para ficarmos só no real. No delírio e no sofisma, temos a maior Bacia de Gás do Brasil, uma Refinaria de Petróleo Premium, enfim um Estado classe A para um povo desclassificado pelos governantes. Vamos lá.

Qualquer consulta ao DATASUS nos informa que em Teresina existem sete hospitais públicos estaduais, além de convênios para atendimento dos pacientes do SUS nos maiores e mais bem equipados hospitais do Estado.

O principal Hospital Estadual do Piauí em Teresina, o Getúlio Vargas, já quase resolveria nossas necessidades. Tem 425 leitos, atende 15 especialidades médicas, duas UTIs, unidade de transplante e um quadro funcional de 2.100 servidores.

Dos 23 hospitais particulares, todos dentre os de melhor qualificação, sete atendem pacientes do SUS: Santa Maria, São Paulo, França Filho, Sepam, Sanatório Meduna e Hospital Casamater..Outros hospitais, também dentre os quais um dos mais aparelhados e qualificados, o São Marcos, juntamente com o Hospital São Carlos, entram na lista como hospitais filantrópicos. Total, 15 hospitais disponibilizando consultas, exames e leitos para os pacientes do SUS.

Os outros privados dão conta do atendimento pago diretamente, ou através dos planos de saúde, , todos aceitos sem restrição, com tranqüilidade.

Do município, administração após administração, com altruísmo e espírito público, os prefeitos foram somando, e hoje, há nove hospitais municipais, hospitais de verdade, distribuídos por diversas zonas do município

Ora, com prestadores de serviço, abundantes e de alto nível, onde o paciente do SUS é internado no mesmo hospital e tratado pelos mesmos médicos, como quando me internei e fui tratado em São Paulo no “Dante Pazzanese”, o cidadão não é coagido a se valer de planos de saúde que estão abarrotando os hospitais e clínicas particulares. Não é raro esperar-se meses por uma consulta em clínicas. E em hospitais, o paciente fica aguardando vagas em leitos de observação, uma espécie de maca de luxo.

Agora compare, quantos hospitais estaduais existem no Maranhão, já não só em São Luis? Os poucos que tinham estão sendo desativados e, investem em um que não é do Estado, foi tomado do servidor. Já vai à casa de 100 milhões uma obra licitada por 40 milhões, e só dois andares estão prontos. No interior eram 70, só um foi entregue. Ô farra!

Jornais de ontem já estão dando conta que um aposentado do IPEM, à falta de quem a mais recorrer, registrou queixa na polícia contra a desativação do Ambulatório de Geriatria, como já foi a Emergência e todos os outros.

Sem Hospitais Públicos abundantes e qualificados, o cidadão faz das tripas coração para ter um plano de saúde. E haja hospitais particulares para tantos indigentes da assistência pública.

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