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Centro de São Luís, um passado que está indo embora…

Por Antônio de Lisboa Machado Filho *

Torna-se perceptível, cada vez mais, o súbito estado de abandono que vem consumindo, em silêncio, o centro da nossa histórica cidade de São Luís, à beira dos seus quatrocentos anos.

Em 1997, o seu centro histórico, ornamentado pelo mais rico acervo arquitetônico de origem portuguesa da América Latina, fora o responsável pela nossa elevação à seleta categoria internacional de Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade, título conferido pela UNESCO. A partir daí, tornamo-nos a sexta localidade do Nordeste – ao lado dos Centros Históricos de Salvador (BA) e de Olinda (PE), do Atol das Rocas (RN) e das Reservas Florestais de Fernando de Noronha (PE) e da Serra da Capivara (PI) – a envergar honrosa titulação conferida por Órgão da ONU. Parecíamos ter alcançado a coroa da Rainha. Engano.

O que, subitamente, passara a ocorrer – sobretudo a partir do final dos anos noventa, uma vez que tal fenômeno já vinha ocorrendo em estágio embrionário – fora o gradativo esvaziamento das atividades, tanto públicas como privadas, que ali costumavam ter lugar. Silenciosamente, foram deixando o Centro da Cidade o IBAMA, a Biblioteca Pública Benedito Leite, o Colégio Marista, o Colégio de São Luiz, o Ginásio Costa Rodrigues, o Colonial Shopping, o Colégio Rosa Castro, o Cine Passeio, a Mesbla, a LOBRÁS, o Franco Maranhense, o Zoé, o Cine Éden, o Casino Maranhense, a Academia Vida e Saúde, as boates Esfinge, Le Cage, Apocalypse, Egitu´s e tantos outros ícones de uma era de intensas atividades que tinham no Centro seu núcleo operacional. A saudade que essas atividades deixaram, na lembrança de quem ama essa cidade, tem diversos motivos: falência, mudança de endereço, encerramento de atividades, falta de investimentos ou mesmo reformas, irresponsavelmente inacabadas.

Como bom exemplo do esquecimento de nossa própria história recente, que teve no Centro o seu palco, tome-se a Rua Rio Branco, recheada de imóveis abandonados, quase todos à beira da ruína. Até os shows no Espaço Cultural, nos incomparáveis anos oitenta, se mudaram para o outro lado da cidade. As atividades que hoje dão movimento ao Centro têm mais intensidade durante o dia, deixando a noite viúva de tempos que parecem não voltar mais.

Se nosso passado está sendo abandonado, corremos o risco de nosso presente nos trazer um futuro incerto: sem história, sem identidade, sem memória. O Centro da Cidade grita por revitalização. Que ele não comemore quatrocentos anos apenas como uma vaga lembrança na saudade que aperta o peito de cada um de nós que amamos a nossa cidade.

*Advogado, professor de Direito, Atualidades e Língua Estrangeira.

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