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2014, o plano B começa a ganhar forma

Por: Nonato Reis

A sucessão de Roseana Sarney ainda é apenas um filme incipiente. Faltam roteiro, cenário, figurantes e até (por que não?) protagonistas. Só não se pode dizer que inexiste trama. Há de sobra, naquele sentido mais rasteiro de ciladas e armações. Mesmo distante no tempo, 2014 começou a produzir efeitos a partir do momento em que Roseana Sarney, eleita para o seu quarto mandato, levou para a chefia da Casa Civil, Luís Fernando Silva, então prefeito de São José de Ribamar, e deu sinais de que ele seria o seu candidato para sucedê-la.

Ato precipitado, para dizer o mínimo. Luís Fernando era para ser uma carta guardada no bolso do colete. Ao trazê-la à luz, Roseana antecipou um cenário que só deveria ocupar o núcleo do governo a partir do terceiro ano de mandato. Além do que colocou o seu curinga na berlinda, sob exposição desnecessária. Quatro anos antes das eleições, ele se tornou alvo de fofocas e intrigas, próprias da intimidade do poder. Gratinou sua imagem.

Se de fato tinha pretensões maiores com ele, a governadora não deveria tê-lo sacado da prefeitura de Ribamar, onde fazia uma gestão exemplar. Melhor que continuasse lá, a salvo do fogo amigo, tocando a máquina municipal, para no momento certo emergir ao centro da cena política. A situação dele começou a se complicar a partir da eleição para a presidência da Assembleia, que escapou das mãos de Ricardo Murad, como que por encanto. Murad sabe onde foi urdido aquele milagre que ungiu Arnaldo Melo e o abateu em plena aterrissagem.

O grupo Sarney, é bom que se diga, não age de forma ortodoxa, em que um líder decide e os demais acatam. É estratificado em torno de uma hierarquia. Na base estão os peões que seguem a passeata, conforme as vozes de comando. Nos graus superiores atuam as damas, os valetes e os reis. Damas e valetes até distribuem ordens subjacentes, mas não são os emissores. Sempre há um rei por trás deles.

Luís Fernando não teve participação direta na eleição de Arnaldo Melo, mas deve ter sido instruído. Pode até nem ter feito nada no plano objetivo, mas na cabeça de Ricardo ele pecou por omissão, ao repetir Pilatos no episódio da crucificação. Isso, de alguma forma, explica o desgaste que o chefe da Casa Civil tem sofrido ao longo do tempo, mas também é um erro imaginar que Ricardo Murad age por conta própria para desestabilizá-lo.

O que existe neste caso é uma convergência de interesses. Ricardo quer se vingar daqueles que frustraram o seu sonho de poder. Edison Lobão alimenta o desejo de voltar a ser governador. Sarney abençoa esse projeto. Não por acaso trabalha nos bastidores para fazer dele o seu sucessor na presidência do Senado Federal. Com Lobão ocupando o terceiro cargo da República, na linha de sucessão presidencial, fica evidente a sua visibilidade para a disputa do governo do Estado.

Sarney entra em choque com Roseana? Frontalmente não. Até porque conhece o gênio indomável da filha. Mas trabalha nos labirintos para fazer valer as suas vontades, como, aliás, é do seu feitio. Ricardo Murad é o valete mais que perfeito para abrir a clareira na direção de 2014 e fechar os caminhos do chefe da Casa Civil, porque une o útil ao agradável. É como juntar a fome e a comida. Não quer se vingar do revés sofrido? Pois vai à forra, e nisso prepara o caminho para o desfile majestoso de Lobão.

Roseana conhece bem o estilo de Ricardo Murad e mais ainda o modo de agir do chefe do clã. Murad hoje tem musculatura suficiente para sentar à mesa e discutir as cartas. É responsável pela condução do projeto mais ousado do governo, cuja viabilização ninguém acreditava, nem a própria governadora. Contra todos os prognósticos, pôs a locomotiva oxidada da saúde em movimento.

Os hospitais prometidos começaram a sair do papel, e mais do que isso, em condições de funcionamento. A rede de emergência da capital, antes falida, foi em parte reabilitada. As UPAs, um projeto do governo federal, mas executado em parceria com os Estados, atendem melhor do que a rede privada. Detentores de planos de saúde estão preferindo recorrer a esses centros a procurar as unidades particulares.

Desse modo o espaço de Ricardo Murad dentro do governo, que já era grande, ficou ainda maior, ao ponto de peitar chefe da Casa Civil e chamá-lo para o ringue. Roseana assiste à queda de braço dos dois, como mera expectadora. É o caso de se perguntar: se quer Luís Fernando como seu candidato, não devia interceder e apagar o fogo sob a frigideira? Tudo o que fez foi dar uma declaração de apoio a ele, enfatizando a sua importância para o governo, que, ao contrário de fortalecê-lo, expôs ainda mais a sua fragilidade.

No futebol, quando o presidente do clube vem a público defender o técnico significa que ele, o treinador, está com a cabeça a prêmio. Na política não é diferente. Há tempos Roseana acalenta uma espécie de plano B, que consiste em oxigenar Max Barros. Como? Fazendo-o presidente da Assembleia Legislativa. Nessa condição e, dependendo de articulações para afastar do caminho o vice Washington Luiz, ele assumiria o governo a partir de abril de 2014 e disputaria a reeleição para o cargo.

Resta saber se ele, Max Barros, tem densidade eleitoral para confrontar Flávio Dino. Quando decidiu abrir caminho para Luís Fernando, Roseana imaginava injetar sangue novo no tecido de uma dinastia exaurida, em processo de necrose. Neste aspecto, a eventual troca de um pelo outro não inviabilizaria seus planos, porque ambos representam renovação. Tal como o primeiro, Max carrega a fama de bom gestor, não possui máculas, e transita bem entre todas as correntes políticas, inclusive as da oposição.

Mas hoje essa é uma questão tangencial no cenário de 2014. Serve apenas para mostrar como as cartas do baralho se movimentam, em compasso de espera. Uma coisa é certa: Luís Fernando não terá vida fácil. Daqui até lá, muitas noites insones o esperam, embaladas por um pesadelo que o assombra deste que aceitou o desafio de sentar à direita de Roseana. Se perder a indicação para a sucessão, o que lhe resta? Tentar uma vaga para a Câmara dos Deputados? Nessa hipótese ele não seria mais que um peão nobre da corte. Muito pouco, humilhante mesmo, para quem sonha sentar-se na cadeira do trono.

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