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André Fufuca entre a cruz e a espada

Ilustração / Daniel Moraes

Apesar de importante para as suas pretensões eleitorais no Maranhão, a federação União Progressista também trouxe uma dor de cabeça ao ministro André Fufuca (Esporte). Se por um lado a aliança do seu partido (Progressistas) com o União Brasil lhe garante mais musculatura em uma sonhada campanha ao Senado em 2026, por outro, também o coloca numa sinuca de bico. É que os presidentes da chamada “superfederação”, Ciro Nogueira (PP) e Antônio Rueda (União Brasil), já deixaram claro que farão oposição ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva – o que compromete a posição de Fufuca na Esplanada e um esperado apoio do presidente ao seu nome no estado.

No evento que formalizou a federação das legendas, em 19 de agosto, que contou com a participação de vários partidos de oposição e até pedido de aplausos ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o tom foi de críticas a Lula. Os governadores Tarcísio de Freitas (São Paulo), Ibaneis Rocha (Distrito Federal) e Ronaldo Caiado (Goiás) estão entre os que pregaram oposição aberta ao petista. Presente no evento, o ministro André Fufuca preferiu não se comprometer. Quando questionado sobre a sua posição, limitou-se a afirmar que está com Lula. “Meu voto pessoal é dele (Lula)”, disse.

A fala não foi suficiente para o chefe do Executivo. Incomodado com a presença de seus auxiliares em eventos da oposição, Lula cobrou os representantes do União Brasil e do PP durante reunião ministerial no dia 26 de agosto. Para o presidente, os ministros precisam ter lado e sair em defesa do governo. Apesar de já ter tratado de forma privada com ministros do União Brasil e do PP sobre a permanência na gestão, foi a primeira vez que Lula tocou no assunto na frente dos demais chefes das pastas ministeriais, o que foi lido como um recado a todos eles: quem não defender o governo ao qual faz parte deve entregar o cargo. Com a proximidade de 2026, Lula demonstra que não pretende mais tolerar o que o Estadão definiu em editorial como “governismo de oposição”.

Em resposta à reprimenda de Lula, o União Brasil antecipou para a próxima quarta-feira (3) a discussão sobre a entrega de ministérios e de cargos ocupados por membros da sigla no governo federal. “Essa reunião já estava marcada, já era de conhecimento de todos, mas as falas do presidente Lula fizeram com que a gente antecipasse essa discussão. Vamos discutir uma diretriz para que os ministros deixem as pastas e os cargos sejam entregues”, disse ao g1 o vice-presidente da sigla, ACM Neto. Membros do partido afirmam que a resolução partidária terá como objetivo impedir a participação de filiados no governo, e que a continuidade em cargos na administração Lula representará um ato de infidelidade partidária – o que pode levar à expulsão.

No Progressistas de André Fufuca o quadro não é diferente. Em entrevista ao Estadão, Ciro Nogueira afirmou que convocará na primeira semana de setembro uma reunião para definir a saída do partido da equipe de Lula. “Quem não sair do governo tem que sair do partido”, sentenciou o presidente do PP. Questionado sobre a situação de André Fufuca, que não esconde de ninguém o seu desejo de continuar como ministro de Lula, Ciro Nogueira foi inflexível: “Na vida a gente não faz tudo o que quer.”

Entre a cruz e a espada, André Fufuca terá que decidir se fica com a superestrutura partidária da federação União Progressista, que receberá quase R$ 1 bilhão do fundo público de financiamento de campanhas e pode lhe assegurar uma recondução confortável à Câmara dos Deputados; ou se permanece no Ministério do Esporte, arriscando os espaços que conquistou dentro do Centrão, mas tendo a possibilidade de colar a sua imagem à de Lula, que tem alta aprovação no Maranhão, numa possível campanha ao Senado. Independentemente de qual seja a decisão de Fufuca, ao que tudo indica, ela terá que ser tomada muito em breve.

(Coluna publicada originalmente na versão impressa do Jornal Pequeno em 31/08/2025)

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