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Candidatos afoitos, institutos duvidosos

Foto: Reprodução

Ainda faltam dezessete meses (e uns quebrados) para a eleição que vai definir o novo ocupante do Palácio dos Leões, mas isso não tem impedido que candidatos mais afoitos comecem a circular pesquisas de intenção de voto para o pleito de outubro de 2026. Na última quarta-feira (23), uma pesquisa da Vox Brasil Pesquisa Marketing, publicada em blogs locais com pompas de furo jornalístico, apontou a liderança do prefeito Eduardo Braide (PSD) na disputa ao governo do Maranhão, seguido por Lahésio Bonfim (Novo) e pelo atual vice-governador Felipe Camarão (PT).

Apesar do nome caudaloso, a Vox Brasil Pesquisa Marketing é caloura neste ramo – cada vez mais popular – de pesquisas eleitorais. Fundada há 10 meses no município de Assú, cidadezinha de 59 mil habitantes no interior do Rio Grande do Norte, a empresa tem como principal atividade econômica os serviços de produção musical. Antes de se dedicar às pesquisas, a Vox Brasil Pesquisa Marketing chamava-se M. R. Borges Promoções e atuava quase como uma loja de departamento: nela, o cliente podia contratar desde a produção de espetáculos de dança até a realização de obras de terraplanagem e urbanização de ruas – atividades que, aliás, ainda constam como serviços oferecidos pela Vox Brasil.

Na pesquisa divulgada na última quarta-feira, o instituto afirma ter ouvido 1.050 eleitores, em 31 municípios maranhenses, entre os dias 12 e 17 de abril. Páginas que divulgaram os números da sondagem tiveram que acreditar na palavra do instituto, porque a pesquisa não foi registrada no TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Os institutos de pesquisa só são obrigados a fazer o registro das sondagens em ano eleitoral, quando também precisam informar a metodologia utilizada, o questionário que foi aplicado e quem o contratou. Toda pesquisa divulgada em ano eleitoral também precisa da chancela de um estatístico registrado no Conre (Conselho Regional de Estatística). Como 2025 ainda não é 2026, apesar de alguns políticos já estarem em ritmo de campanha, o Vox Brasil Pesquisa Marketing não precisou se preocupar com transparência.

As páginas que republicaram a sondagem, e alguns políticos que apareceram bem posicionados, também não. O ex-senador Roberto Rocha, que amargou a quarta colocação na última vez que concorreu ao governo do Estado, amealhando apenas 64.446 votos (2,05%), deve ter gostado do que viu. Na pesquisa da Vox Brasil Pesquisa Marketing, ele, que está sem mandato desde 2023, tem a preferência de 9,04% dos entrevistados, o que representa um crescimento de popularidade de 340%, antes mesmo de começar a pré-campanha.

Outro que deve ter aprovado a sondagem é o ex-prefeito de São Pedro dos Crentes, Lahésio Bonfim. Além de uma segunda colocação confortável (22,20%) em um cenário com Eduardo Braide na disputa, Bonfim lidera com folga (36,29%) na hipótese de uma eleição sem o nome do prefeito de São Luís – detalhe estatístico que foi devidamente apontado por páginas que divulgaram a pesquisa.

Nenhum dos políticos mencionados falou publicamente sobre o levantamento. A sondagem, no entanto, foi amplamente divulgada em blogs e grupos de WhatsApp.

Com menos de um ano de existência, o instituto Vox Brasil Pesquisa Marketing já se tornou queridinho de políticos maranhenses. Das 23 pesquisas que registrou no TSE até agora, 22 foram feitas em cidades do Maranhão. A primeira delas, sobre a eleição de Codó, foi contratada no dia 16 de junho de 2024, dois dias depois da abertura da empresa Vox Brasil Pesquisa Marketing, que começou a operar no dia 14 de junho.

A pesquisa, alardeada em blogs da cidade, apontava vitória de Zé Francisco (36,5%) sobre Chiquinho FC (26,2%). No dia 28 de agosto, uma segunda pesquisa do instituto também apontou a liderança de Zé Francisco (35,3%) sobre o adversário Chiquinho FC (27,2%). O levantamento acabou impugnado no mesmo dia pelo juiz eleitoral Iran Kurban Filho, que entendeu que a pesquisa violou as regras eleitorais. “Não se pode considerar, desde logo, que a pesquisa em questão tenha sido regularmente elaborada e atenda a todas as disposições da legislação eleitoral”, escreveu o magistrado. Na decisão, o juiz proibiu a divulgação da pesquisa, sob pena de R$ 10 mil, e intimou o instituto Vox Brasil a apresentar informações e justificativas sobre a metodologia da sondagem feita em Codó.

Naquele ano, ao contrário do que apontaram as pesquisas do instituto Vox Brasil Pesquisa Marketing, Zé Francisco perdeu a eleição para Chiquinho FC, que foi eleito prefeito de Codó com 48,29% dos votos.

(Texto publicado originalmente na edição impressa do Jornal Pequeno).

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