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Temer quer ‘vender’ aos russos ferrovia criada por Sarney e alvo de investigação de propina

O presidente Michel Temer embarca esta semana para a Rússia e leva na bagagem o plano de tentar atrair os russos para participar da licitação da Ferrovia Norte-Sul. Chamada nos anos 1980 de “ferrovia que liga nada a lugar nenhum” pelo então sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva ela não tem saída para o mar. Hoje, a principal dúvida dos investidores é saber como a carga transportada nessa linha vai chegar a algum porto do País.

A ferrovia Norte-Sul foi concebida no governo do Presidente José Sarney. Nas delações, ex-executivos da Odebrecht revelaram pagamento de propina na construção na Ferrovia Norte-Sul.

De acordo com o jornal O Estado de São Paulo, Temer oferecerá aos russos a concessão de 1.257 km de linha férrea ligando as cidades de Porto Nacional (TO) e Estrela d’Oeste (SP) construídos com R$ 10,4 bilhões em recursos públicos ao longo dos últimos 30 anos. Parte desse dinheiro foi desviado em esquemas de corrupção, o que fez com que o ministro dos Transportes, Maurício Quintella, classificasse a história da ferrovia como uma “página negra” do investimento ferroviário no Brasil.

A construção da ferrovia Norte-Sul já se estende há mais de 30 anos sem conclusão. Uma fraude em sua licitação já foi denunciada em 1987, pelo jornal Folha de S. Paulo, e desde então, a ferrovia é alvo de investigações. Mesmo após ter deixado a Presidência da República, José Sarney manteve sob seu domínio a indicação da diretoria da Valec – empresa estatal responsável pela construção da ferrovia.

O nome do ex-presidente José Sarney é mencionado, inclusive, no inquérito que investiga o deputado Milton Monti e o ex-deputado Valdemar Costa Neto, ambos do PR, partido que tinha domínio sobre a Valec, empresa pública vinculada ao Ministério dos Transportes e responsável pela obra da Ferrovia Norte-Sul, projeto que nasceu em 1987, no governo Sarney.

Dois ex-executivos da Odebrecht disseram que o esquema de propina alimentava dois grupos políticos: de Sarney e de Costa Neto. O próprio presidente da Valec, José Francisco das Neves, o Juquinha, segundo eles, fez a cobrança.

As construtoras combinavam entre si quem ganharia cada trecho da ferrovia. Assim, podiam vencer a licitação superfaturando os preços das obras, pois era apenas de fachada a concorrência na licitação. Para manterem o esquema, pagavam propina para Juquinha, então presidente da Valec e velho aliado da família Sarney. Quando foi preso pela primeira vez em 2012, a Polícia Federal conseguiu gravações em que Juquinha afirmava a interlocutores que o então senador Sarney o bancava junto ao ministro dos Transportes. Enquanto comandou a empresa, seu patrimônio saltou de R$ 500 mil para R$ 60 milhões.

Em uma investigação que apura o pagamento de propina em obras da ferrovia Norte-Sul, o ex-presidente José Sarney é apontado por delatores da Odebrecht como beneficiário de repasses que somam quase R$ 800 mil, no que foi identificado até o momento na ‘Planilha da Propina’ da empreiteira. De acordo com o ex-executivo Pedro Carneiro Leão Neto, os pagamentos eram feitos a Ulisses Assad, então diretor da Valec, que se referia ao político do Maranhão como ‘o Grande Chefe’ e ‘Bigode’ para solicitar a propina na obra.

“Era claro, em minha percepção, que os valores ilícitos eram destinados a José Sarney ou a quem ele viesse a indicar, sendo que Ulisses nunca especificou se e como a vantagem indevida era compartilhada entre os beneficiários”, disse Pedro Carneiro Leão. De acordo com os delatores, pessoas ligadas a Sarney receberam entre 2008 e 2009 cerca de 1% sobre o contrato das obras da ferrovia Norte-Sul tocadas pela construtora.

Se um dia ficar pronta, a ferrovia o que o Lula do século passado chamava de Ferrovia do Sarney, em construção desde 1987 no mandato de José Sarney, será uma espécie de memorial do Brasil Maravilha sobre trilhos: demorou o dobro do tempo para sair do papel, custou mais do que o triplo e, inaugurada no século 21, terá a cara de estrada de ferro dos tempos em que os vagões eram puxados pela maria-fumaça.

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