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Número de sem-voto a apenas 42 dias da eleição é o maior em 20 anos

Carla da Silva Santos, 28 anos, é uma das indecisas – Marcio Lima / Agência O Globo

O Globo – A vendedora Suely Diniz de Souza, de 42 anos, fica com “a cabeça confusa” quando o assunto é a eleição presidencial de outubro. Ela conta que gostaria de ter confiança em algum candidato, mas teme escolher alguém que se envolva em escândalos de corrupção.

A 42 dias da votação, Suely não tem um candidato para a disputa pelo Palácio do Planalto. É integrante de um universo que há 20 anos não era tão grande, o dos eleitores que pretendem votar branco, nulo ou estão indecisos. Eles somam 38%, segundo pesquisa do Ibope divulgada na segunda-feira. Há quatro anos, na mesma época, a soma do que os cientistas políticos chamam de alienação eleitoral era menos da metade, 15%.

— Gostaria de ter segurança para dizer: eu vou votar em fulano porque aquela pessoa é assim, mas infelizmente não tenho um nome — diz Suely, que mora em João Pessoa e é funcionária de uma loja de biquínis na Praia de Tambaú, onde ganha cerca de mil reais mensais.

Por mais que o número seja recorde, a aposta de cientistas políticos é que a TV e o rádio representarão um gatilho para despertar o interesse desse eleitorado. Segundo analistas, a parcela de indecisos e votos nulos e brancos aumenta entre os eleitores de baixa renda e menos escolarizados. Esse é o público que se informa principalmente pela TV e pelo rádio. Por isso, tende a se interessar mais e definir seu voto quando começar a propaganda eleitoral, avalia o cientista político Rubens Figueiredo:

— Segundo uma dessas pesquisas, 70% dos brasileiros acham que as eleições podem mudar a vida para melhor. A televisão no Brasil é poderosíssima, quase 80% dos brasileiros assistem à TV todos os dias. É monumental a capacidade de formar opinião. À medida que a campanha se desenvolve, o número de indecisos tende a diminuir. Historicamente, quando a TV entra no jogo, as pessoas começam a se sentir mais esclarecidas, seja por simpatia, rejeição ou voto útil.

Os entrevistados pelo GLOBO reforçam essa expectativa. Embora se digam desalentados, a maioria — sete dos dez eleitores — afirmou que vai buscar mais informações sobre os postulantes e as campanhas no noticiário e não desistiu de escolher um nome para presidente até 7 de outubro.

— As pessoas estão decepcionadas. Os sentimentos predominantes são indignação e ansiedade. Mas o eleitor indignado e o ansioso têm motivo para votar — explica o cientista político Antonio Lavareda.

É o que confirma a paraibana Suely:

— Já anulei o voto, mas não devo fazer isso de novo porque as pessoas acabam decidindo por mim.

“Ajackson é do Rio?”

Cientista político da Fundação Getúlio Vargas, Jairo Pimentel avalia que o cenário eleitoral corrente é diferente do de 2014 no mesmo período. Mas ele crê que o número de eleitores sem-voto este ano se aproximará da média histórica:

LEIA: Propostas de candidatos na economia têm difícil execução

— Um ponto importante é que não há um candidato (claro) do governo. Mesmo quando ele é mal avaliado, costuma haver transferência de voto. Mas vivemos um governo (Temer) que foi colocado de uma maneira confusa, envolvido em corrupção. É uma situação atípica. O Lula é importante também. Há uma clientela muito grande que quer votar nele (37% dos eleitores, segundo o Ibope).

Sem saber a decisão final do PT sobre quem aparecerá na urna, eleitores ficam confusos, o que alimenta a indecisão. Vendedora de loterias em de Salvador, Carla da Silva Santos, de 28 anos, conta que nunca ouviu falar em Fernando Haddad, o candidato a vice na chapa encabeçada por Lula, que está preso. Haddad visitara Salvador na véspera.

— Esse Ajackson (Haddad) é do Rio? — perguntou Carla, que fatura cerca de R$ 400 por mês com a venda de loterias.

O Nordeste, onde vivem Suely e a maior parte dos eleitores de Lula, tem a maior fatia de indecisos ou que pretendem anular o voto (41%, segundo o Ibope). No país, 44% das mulheres se colocam nessa situação. Entre os eleitores com até a 4ª série, são 49%.

Os principais candidatos apostam no início do horário eleitoral na TV para conquistar o voto do eleitor ainda indefinido. Com maior tempo de propaganda, Geraldo Alckmin (PSDB) já testa peças de propaganda. Com menos tempo, Ciro Gomes (PDT) pretende investir em viagens.

Jair Bolsonaro (PSL) está mais preocupado em consolidar as próprias intenções de voto do que em conquistar indecisos, e o PT tentará vincular Haddad ao máximo a Lula. Marina Silva (Rede) deverá procurar reforçar sua identificação com o eleitorado órfão de Lula.

Colaboraram Amanda Almeida, Bruno Góes, Maria Lima, Catarina Alencastro, Cristiane Jungblut, Eduardo Bresciani, Mariana Martinez, Frederico Lima* e Patricia Comunello**. *Estagiário sob supervisão de Guilherme Evelin. **Especial para O GLOBO.

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