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MARANHÃO: Mais de 6,2 mil alunos desistiram dos cursos superiores de engenharia em 2017

Por Aline Dias

O Brasil está entre os países do mundo com o menor número de engenheiros. Enquanto a Coreia, a Rússia, a Finlândia e a Áustria contavam com mais de 20 engenheiros para cada 10 mil habitantes, o Brasil registrava, em 2014, apenas 4,8 graduados em engenharia para o mesmo universo de pessoas, no período. Segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), sistematizados pela Associação Nacional de Educação em Engenharia (Abenge), apesar do ingresso em cursos superiores ter aumentado, passando de 6,5% para 15,1% entre 2001 e 2016, a evasão aumentou de 5,1% para 10,6% no mesmo período.

Em 2017, no Maranhão, mais de 5,5 mil alunos ingressaram em cursos de engenharia. Em contrapartida, 6.264 desistiram da graduação, de acordo com o Censo da Educação Superior. Desse número, 4.208 se desvincularam da universidade, 1.937 trancaram e 119 trocaram de curso. No ano passado, o estado ofereceu mais de 7,4 mil vagas distribuídas entre cursos ofertados por instituições públicas e privadas nas áreas de engenharia, como engenharia civil, elétrica, mecânica, computação, química, engenharia de produção, materiais e automotiva.

Na Universidade Federal do Maranhão (UFMA), de 2.880 alunos que ingressaram em algum dos cursos de engenharia, nos últimos seis anos, 16,6% abandonaram a universidade. Segundo o coordenador do primeiro ciclo dos cursos de engenharia da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), José Renato de Oliveira, a instituição tem conseguido controlar a evasão com a adoção de novas diretrizes curriculares, que separam o curso em dois ciclos. O primeiro é focado nas disciplinas básicas a todas as engenharias, para que os alunos, que geralmente chegam sem preparo algum, concentrem os esforços em física, química, cálculos em geral, e em algumas matérias específicas, uma espécie de apresentação de cada curso. Somente no segundo ciclo é que o aluno escolhe em qual engenharia ingressar.

“É histórico nos cursos de ciências exatas que haja uma evasão muito grande, sobretudo pela grande deficiência do ingressante nas disciplinas voltadas para cálculos. Muitos dos nossos alunos têm vontade, têm o desejo, mas não são capacitados suficientemente para acompanhar o nível do ensino superior, mesmo nos primeiros anos da universidade”, explica.

Além das mudanças curriculares, a universidade instituiu, em dezembro de 2017, a Comissão de Estudos de Evasão para traçar o perfil dos estudantes que deixam a universidade e para definir propostas para contornar o problema. “É preciso produzir um ensino interessante para o aluno. Não basta ensinar os cálculos sem dar aplicações e sem ligar aquilo à vida, ao cotidiano do aluno. A oportunidade de ter prática, de ter experimento, é imprescindível”, destaca o coordenador.

Para a diretora de Inovação da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e superintendente nacional do Instituto Euvaldo Lodi (IEL), Gianna Sagazio, o alto índice de desistência mostra a fragilidade e a necessidade da modernização do ensino de engenharia, que, segundo ela, ainda segue o modelo idealizado há mais de 30 anos. “O mundo está mudando muito rapidamente e a gente precisa preparar os nossos profissionais, os nossos engenheiros, para enfrentar esses desafios que já estão colocados aqui. Se a gente não tiver engenheiros preparados para os impactos dessa revolução digital, a gente não vai conseguir ser um país competitivo e nem gerar qualidade de vida para a nossa população”, ressalta.

Em junho de 2018, a CNI encaminhou, aos candidatos à presidência da República, propostas para a atualização do currículo dos cursos de engenharia identificadas a partir de um trabalho conjunto entre a CNI, líderes empresariais e reitores de importantes universidades, no âmbito da Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI).

Gianna Sagazio explica que foram definidos três eixos estratégicos para modernizar o ensino das engenharias no país: a modernização das diretrizes curriculares e metodologias, aprimoramento do sistema de avaliação e a valorização do trabalho dos docentes. De acordo com Gianna, para o Brasil avançar e se tornar um país inovador “é importantíssimo que a formação privilegie o domínio das competências ligadas ao desenvolvimento e à gestão de projetos, habilidades como o empreendedorismo, a liderança, a criatividade, a facilidade de trabalho em equipes multidisciplinares e a capacidade de aprendizagem autônoma”.

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