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Ao intervir no Rio, Temer enterra Previdência e busca sobrevida política

POR BERNARDO MELLO FRANCO

Ao decretar a intervenção federal no Rio, o governo evita uma derrota anunciada e busca uma sobrevida política para o presidente Michel Temer.

A derrota tinha data marcada. Na próxima terça-feira, a Câmara começaria a votar a reforma da Previdência. Apesar do discurso oficial de otimismo, o Planalto já sabia que a batalha estava perdida. Distribuiu cargos e emendas à vontade, mas estava longe de conseguir os 308 votos necessários.

O fracasso da reforma significaria a morte antecipada do governo. O presidente seria abandonado pelo empresariado e pelo mercado financeiro. Ficaria condenado a se arrastar como um zumbi até entregar a faixa ao sucessor, em janeiro de 2019.

Com a intervenção, Temer oferece um enterro de luxo para a reforma. Enquanto as Forças Armadas estiverem no Rio, o Congresso não pode aprovar nenhuma emenda à Constituição.

De imediato, parece uma estratégia brilhante. O governo encontrou o pretexto ideal para se livrar de uma causa impopular e já derrotada. Ao mesmo tempo, o presidente ganha a chance de reconquistar algum apoio. O clamor por soluções de força contra a violência é crescente, como mostra o fenômeno Bolsonaro.

A médio prazo, o resultado da intervenção é mais incerto. Ao assumir a responsabilidade pela segurança em terras fluminenses, Temer toma para si um problema cuja solução é complexa, demorada e improvável.

A população do Rio quer acreditar numa mudança, mas está vacinada por décadas de anúncios e operações pirotécnicas que não deram em nada.

Na mais recente, o Exército ocupou a Rocinha com tanques e soldados camuflados. A ação dominou o noticiário e prendeu o inimigo público da vez, mas não foi capaz de asfixiar o tráfico. Cinco meses depois, a favela continua refém da violência. Ainda convive com tiroteios diários, para desespero de milhares de moradores da comunidade e dos bairros vizinhos.

A presença dos militares ainda oferece outros riscos. As Forças Armadas são treinadas para combater o inimigo, não para garantir a segurança. Um único caso de abuso da violência pode botar tudo a perder. Basta lembrar o que aconteceu com o as UPPs após o caso Amarildo.

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