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Antes cenário de caos, Pedrinhas vira chance de recomeço e vida fora do crime

Helen Ranissa está fazendo um curso de serigrafia para arrumar emprego e melhorar de vida. Veridiana Souza aprendeu a tecer fardamentos e também tem planos para entrar no mercado de trabalho. Sara Naiadi é outra que está aprendendo a ter uma profissão. Em comum, todas elas estão cumprindo pena no Complexo Penitenciário de Pedrinhas, em São Luís.

O local que antes aparecia no mundo todo como palco de horrores agora abriga oportunidades para os detentos. Não é apenas um lugar para cumprir pena, mas também de recuperação e preparo para uma nova vida. A ideia é que, ao deixar a penitenciária, eles não voltem para o crime. Isso ajuda não só aos ex-detentos, mas a toda a sociedade.


“O dia a dia aqui é bom, o dia passa mais rápido. A gente aprende todo dia uma coisa nova. Quando entrei, não sabia nada, e agora eu ensino as meninas novatas”, conta Helen Ranissa, da oficina de serigrafia. “A gente está tendo uma oportunidade de vencer os desafios da vida”, acrescenta.

Hoje, o sistema penitenciário maranhense tem 133 oficinas de trabalho para detentos e detentas. São cerca de 1.250 presos aprendendo e exercendo uma profissão.

“São mais de 130 projetos, incluindo malharia, horta, tijolo, vassouras, chinelos”, conta André Luiz Aquino, supervisor de Trabalho e Renda. Com o trabalho nas oficinas, os detentos podem ter remuneração própria ou redução da pena. Só entra nas oficinas quem passar por uma criteriosa avaliação.

Economia para o Estado

Detentas participam de oficinas profissionalizantes em Pedrinhas. (Foto: Leo Oliveira)

Mas não são apenas os presos que se beneficiam. O trabalho também significa economia para os cofres públicos. “Alguns produtos que fazemos nas oficinas são usados pelos próprios presos, como chinelos e fardamentos”, diz Aquino. Isso significa menos gastos para o Estado.

Além disso, vários materiais são usados fora das penitenciárias. É o caso dos bloquetes construídos pelos presos e utilizados na pavimentação do Programa Rua Digna, que melhora vias que nunca tinham recebido atenção do poder público.

“Eu cheguei aqui e não sabia nem por onde começar. Hoje em dia já sei costurar, fazer fardamento. É muito válido sair daqui com uma profissão”, conta a detenta Veridiana Souza. A colega Sara Naiadi concorda: “Estou começando a aprender, isso me induz a não fazer coisa errada e voltar para cá. É um modo de sobrevivência lá fora. Várias portas estão se abrindo para a gente”.

Tijolos ecológicos

Tijolos ecológicos produzidos em Pedrinhas. (Foto: Leo Oliveira)

Além das oficinas, estão sendo instaladas fábricas para incrementar a produção. Uma delas é a de tijolos ecológicos, feitos de materiais que seriam descartados. “São usados restos de obras, por isso a gente não polui o ambiente. A gente pode construir casas e o que for necessário com esse material”, conta Aquino.

Kelly Carvalho, secretária adjunta de Atendimento e Humanização Penitenciária do Maranhão, afirma que os projetos serão expandidos: “Isso será feito por meio do Rumo Certo, programa de elevação da escolaridade de presos, familiares, egressos e servidores. Teremos capacitação profissional por parceria, como o Senac e o Senai. Isso vai possibilitar que criemos novas frentes de trabalho”. O objetivo do Rumo Certo é alcançar a marca de 45 mil vagas em cursos.

Tarefa cumprida

Na última semana, magistrados da Associação Juízes para Democracia (AJD) visitaram a Unidade Prisional de Ressocialização (UPR) Feminina de São Luís, no Complexo de Pedrinhas. Eles conheceram as oficinas de trabalho no local.

Dora Martins, juíza de segundo grau em São Paulo, diz que “o sistema carcerário, que é tão dramático, geralmente é mais dramático na ala com as mulheres, que passam por dificuldades peculiares”. Ela acrescentou que “o preso perde a liberdade, mas não pode perder a capacidade de trabalho, de relacionamento familiar, de capacitação intelectual; e parece que aqui esta unidade está cumprindo essas tarefas muito bem”.

“Estou conhecendo [a unidade] e o que pude perceber até este momento é que existe uma preocupação de preparação das mulheres. Prisão é uma situação ruim em qualquer lugar que esteja. O que é importante é ter um tratamento humanitário e garantir os direitos que estão na Lei de Execução Penal”, afirma Kenarik Boujikian, desembargadora do Tribunal de Justiça de São Paulo

“Foi de extrema importância receber magistrados de todo o Brasil. A parte de trabalho e educação aqui no presídio está bem avançada e acho que eles saem daqui satisfeitos com o que viram. A ideia é expandir mais o que estamos fazendo”, diz o secretário de Administração Penitenciário, Murilo Andrade.

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